Opinião: Kim Gordon – The Collective

Kim Gordon passou mais de 3 décadas como vocalista e baixista da banda de rock alternativo Sonic Youth, mas sempre se considerou uma artista visual antes de tudo. O compromisso da artista com a música é de que esta seja meramente um meio de manifestação do seu próprio espírito observador. Portanto, não é surpreendente que com 70 anos, a natureza inconvencional de Gordon ainda alimente a sua música com muitas possibilidades. Isso é especialmente relevante hoje, numa época com tanto a ser explorado.

Género: Industrial Hip Hop, Experimental Rock, Noise Rock
Data de Lançamento: 08/03/2024 

 

Desde sempre, mais focada no ritmo do que na melodia, Gordon, junto com o produtor Justin Raisen – que já trabalhou com artistas como Drake, Charli XCX e Sky Ferreira – exploram mais uma vez a natureza disruptiva do Punk e do Hip-Hop, como já haviam feito no seu debut, No Home Record (2019).

O conceito de The Collective surgiu após Gordon ler o livro The Candy House de Jennifer Egan. O livro descreve um mundo distópico onde é possível aceder à mente de outra pessoa através de uma aplicação móvel. A referência ao livro percorre todo o álbum, mas é mais evidente na faixa-título, onde Gordon canta: “Eu não vou aderir ao coletivo / Mas eu quero ver-te”, enquanto a música é conduzida por um beat Trap que poderia ser de qualquer rapper atual. De facto, o beat da faixa de abertura ‘BYE BYE’, que é a mais acessível do álbum, foi originalmente criado pensando no Playboi Carti.

O resto do álbum aborda o Trap de maneira mais subtil, o que permitiu a exploração de territórios jamais visitados. Nas faixas ‘I’m A Man’ e ‘Psychedelic Orgasm’, as guitarras elétricas distorcidas de Gordon sincronizam-se com sintetizadores e drum machines hipnotizantes de Raisen. Em ‘I Don’t Miss My Mind’, que é barulhenta e devaneadora, Gordon alcança uma sonoridade semelhante ao Shoegaze dos veteranos My Bloody Valentine, mas com um vocal mais relaxado e menos perturbador.

Quase no final do álbum, a faixa ‘The Believers’, dissonante e frenética, é um dos destaques do projeto. A faixa que a sucede, ‘Dream Dollar’, parece uma colagem que mostra muitos elementos presentes no LP, o que proporciona uma conclusão perfeita. Tal como em toda sua carreira, mesmo que as letras soem banais, como um dia em Los Angeles ou uma lista de empacotamento, Gordon sempre consegue transmitir sua mensagem com urgência, e neste álbum essa marca é oficialmente cementada.

 

Faixas favoritas: ‘I’m A Man’, ‘Psychedelic Orgasm’, ‘The Believers’

 

Ruben António

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