Entrevista a Penumbra

Penumbra é uma banda do Porto, composta por Diogo Malcata, Miguel Ribeiro e Diogo Neto. A Engenharia Rádio (ER) esteve à conversa com a banda sobre a sua fundação, música, e outros temas.

 

ER– Em primeiro lugar, como e quando é que surgiu a ideia de fazer música e criar a banda?

Diogo Malcata (DM) e Miguel Ribeiro (MR) – No secundário, éramos amigos e começámos a tocar. Depois um colega nosso também se juntou, e foi através dele que o Diogo (Neto) entrou na banda. Depois o Neto saiu do país, durante o qual fomos experimentando diferentes coisas e quando voltou, em setembro de 2021, voltámos a tocar.

 

ER– Quais são as vossas inspirações/influências no vosso estilo?

 

MR- Cena noise dos anos 80 em Nova York, de guitarristas de diversos estilos que fazem mais do que ser só guitarrista, que inovam e vão mais além.

DM- Influências diversas, mais de death rock, tanto nacionais como internacionais.

Diogo Neto (DN)- Há uma influência mútua, eles os dois inspiram-me no modo como tocam.

 

ER– Como foi o processo de gravação do EP (Banda Gástrica)?

 

MR- A 1ª sessão foi na católica, mas não correu bem, era um ambiente muito profissional, onde não nos sentimos à vontade. Depois fomos ao STOP e foi aí que gravámos. Foi muito de improvisação, chegámos lá e as músicas fluíram. A sala era incrível, e facilitou a gravação.

 

ER– Gravaram então no STOP. Como caracterizariam o espaço e o ambiente desse lugar único de criação musical no Porto?

 

DM- Há uma enorme quantidade de músicos, toda a cena musical underground passa lá, faz com que te sintas em casa e com mais vontade de criar música. A sala onde tocámos tinha muitos recursos, o que também ajudou na gravação.

Não tivemos, no entanto, tempo suficiente para absorver o ambiente.

 

ER– Já que estamos a falar do STOP, como vêm o meio musical alternativo do Porto no geral?

 

MR- Existem muitas bandas, mas falta muitas vezes investimento, e o meio no seu geral está dividido em muitos grupos, um bocado isolados do meio como um todo, porque a qualidade está lá.

 

ER– Falando do Banda Gástrica, este dá a sensação de que o instrumental é muito importante e central na vossa música. Como é o vosso processo normal quando criam novas músicas?

 

DM- Os instrumentais são criados em primeiro lugar, e são os que dão mais power à música. Só depois é que acrescento ou não vocais. Mas também os próprios instrumentais muitas vezes são improvisados nos ensaios, pelo sentimento quando estamos a tocar juntos. Estes também servem de teste para perceber a inclusão de vocais e letras.

MR- É muito no improviso. Damos espaço para cada um tocar e a partir daí surgem as músicas.

 

ER– Já fizeram alguns concertos, como foi a experiência, e a reação do público?

 

MR- Foi incrível. Traz algum nervosismo, mas também um sentimento de propósito, em relação à nossa música. Nestes transformo-me completamente. Os que já fizemos correram bem, porque também o noise só se completa ao vivo. O improviso melhora a performance, e, por isso, acrescentamos se entendermos que é necessário.

DN- A música torna-se muito mais viva, o que faz uma experiência muito fixe, trazendo, ao mesmo tempo, nervosismo. Mas é a parte mais incrível e divertida da música.

DM- Há muita intensidade nos concertos, e corre mal quando se tenta controlar demasiado. Mas quando deixamos fluir sendo nós próprios o resultado é espetacular.

 

ER– Para terminar, acham que a música ainda consegue impactar a sociedade como já o fez no século passado, principalmente em mudar mentalidades e unir pessoas de todo o tipo? Também em específico o meio do Porto.

 

MR- A música tem essa capacidade, mas a arte tem de ser livre, na criação, e depois esses temas podem aparecer, de forma natural. Ou seja, não existe uma obrigatoriedade aos artistas de dizer o que quer que seja sobre qualquer tema. A arte ainda consegue impactar, mas não existe uma união que permita a criação de um movimento em geral. Existem muitos nichos separados e uma desorganização geral, e ninguém arrisca juntar-se.

DM- O progresso acontece de forma orgânica, de quem não tinha esse objetivo, mas acaba por acontecer. Cá a cena musical não é suficiente para fomentar o progresso. Historicamente todo o meio estava unido contra algo, num movimento agregador. Portugal segue também muito as tendências lá de fora. Por outro lado, é também necessário que o público esteja recetivo e que implemente essas mudanças/progressos.

MR- Por exemplo nós não conversámos sobre isto, mas identificamo-nos como uma banda antifa, e abordamos algumas questões no EP (nas músicas Prostituição e Fingem Ser). Surgiu naturalmente.

DN- As pessoas às vezes só precisam de um empurrão para essas causas, questões. Mesmo em termos musicais, vários amigos já foram ver a pensar que não iam gostar e depois adoraram, e assim começaram a conhecer outro estilo de música.

MR- A diversidade é importante, no sentido de ter contacto com mundos diferentes. Várias bandas não dão concertos porque não estão nos nichos, ou então não têm um género que vá ao encontro dessas pessoas. É por isso que também vou começar a divulgar bandas e artistas do Porto (e não só).

DM- Há uma falta de interesse de ir a lugares novos, sair e ver exposições, concertos. Para além disso, há incapacidade em levar o público à cena underground, ou seja, de divulgação e de espaços também. Os apoios também são muito superficiais.

 

Vamos iniciar a gravação do álbum, com algumas músicas que já foram tocadas nos concertos ao vivo.

 

Agradeço aos Penumbra pela disponibilidade e simpatia na realização da entrevista. Podem ouvir o EP no bandcamp e fiquem atentos a novidades.

 

Rodrigo Freitas

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