Primavera Sound Porto 2023 | Metade “Here comes the sun” – dias 9 e 10 de Junho

A segunda metade do Primavera Sound Porto 2023, foi a reviravolta meteorológica que todos ansiavam: um momento digno de Beatles, onde “Here comes the sun” foi a banda sonora que corações cantavam, depois do dilúvio dos dias anteriores. Como se diz por aí, “depois da tempestade vem a bonança”, e assim foi.

 

 

A primeira banda deste dia, que visava ser o ponto de viragem solarenga que todos precisávamos, foram os icónicos Deixem o pimba em paz – um projeto de Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais, que desconstrói as grandes baladas “pimbas” portuguesas em canções “jazzísticas” com a perícia cirúrgica de quem muito sabe. Sempre com gotas de humor à mistura, houve uma ode a Mónica Sintra, Quim Barreiros, Ágata e muitos mais! Apesar da triste história do emigrante, as lágrimas eram de felicidade e contava-se pelos dedos quem não estava a sorrir. Pimba, estás perdoado.

 

PRIMAVERA SOUND PORTO 2023
_ © Hugo Lima | hugolima.com | www.fb.me/hugolimaphotography | instagram.com/hugolimaphoto

 

Do palco principal, viajou-se até ao plenitude – esse mini anfiteatro natural com vista para o atlântico – à espera da norte-americana Blondshell. Vinda diretamente de Los Angeles, apresentou-nos um banquete musical para todo o tipo de pessoas: para as que estavam zangadas, para as que gostavam de cereja, de beijos, entre outras, que incorporam o álbum que partilha o nome da banda “Blondshell”(2022). Foi bom de se viver. 

Ao mesmo tempo, era quarta feira no palco Vodafone. Vindo da Carolina do Norte, o quinteto Wednesday trouxe o indie rock, o shoegaze e até uma pitada de country. Apresentando temas dos álbuns “Rat Saw God” (2023) e “Twin Plagues”(2021), cantaram como forma de protesto. E convidaram o público a protestar com eles: “If you are angry about something in your government or in your life (…) I suggest you scream with me”, disseram antes de “Bull Believer”.

 

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Enquanto se aguardava no palco Vodafone (antigo palco principal) pelo artista que se seguia, sentados na colina, apreciou-se a essência leve do Primavera Sound: famílias pela colina que se curva para o palco, neste lugar onde tudo parece haver uma harmonia constante entre o Homem e a Natureza. Estava tudo a postos para o concerto seguinte: NxWorries. A banda composta por Anderson .Paak e pelo produtor Knxwledge. Talvez se esperava um palco mais composto, com banda para acompanhar o groove, mas eram somente eles os dois – e foi suficiente. Anderson .Paak tem o carisma em cada poro e é impossível ficar indiferente à sua voz de veludo. Foi um concerto altamente interativo, uma conversa entre amigo, e houve um momento em que o palco Vodafone virou a pista de dança da discoteca mais requisitada do país. Para além das canções do seu repertório, ainda houve espaço para cantar Bobby Caldwell, Tina Turner e Michael Jackson. Todos os ingredientes para uma festa memorável, e assim foi.

 

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Depois desta grande festa, houve uma migração para o palco vizinho, Super Bock, que iria receber o nigeriano Rema. Após uns reticentes 20 min de espera a ouvir afro beats, um momento cinematográfico, digno de trailer marcava a chegada de Rema. O público ficou ao rubro e assim que o artista chegou, a energia de festa já estava bem presente. Rema, que muito agradeceu ao público por apoiarem a música nigeriana, mostrou-se genuinamente feliz por tal apoio, tendo partilhado algumas palavras da sua língua-mãe, Bini. Era impossível ficar indiferente a este ritmo contagiante, que se entranhava no corpo e dali não conseguia sair. Entrou com com camisola da seleção nacional, e no momento de tocar a “Calm Down”, o público cantou por ele à capella , num momento simplesmente arrepiante. 

 

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Apesar da sua longa carreira, a atuação dos Pet Shop Boys foi apenas a terceira que fizeram em Portugal. Isso traduziu-se num mar de gente (de todas as idades) reunido em frente ao Palco Porto, esperando em expectativa. E não foram desiludidos: assim que o duo entrou em palco, o público foi transportado no tempo. De repente, não era 2023, mas sim 1986, e ouvia-se “Suburbia”. Quando se dirige ao público, Neil Tennant dá as boas vindas a um “mundo de sonho onde a música toca para sempre”, descrevendo acidentalmente o próprio Primavera Sound Porto. O tempo que se seguiu serviu para serem tocados grandes clássicos, tais como “Where the Streets Have No Name (I Can’t Take My Eyes Off You)”, “Domino Dancing”, “You Were Always On My Mind”, e “Go West”, entre muitos outros. O encore conteve “West End Girls” e terminou com “Being Boring”. O público cantou em uníssono muitas das letras e seguiu cada passo dos artistas com o carinho que só a nostalgia de quase cinco décadas de carreira consegue acumular. Uma época viagem no tempo.

 

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Num dos últimos concertos da noite, todos se preparavam para receber a artista norte-americana Anne Erin Clark, reconhecida artisticamente por  St. Vicent e a sua talentosa banda. Os primeiros acordes foram de puro jazz e a entrada da artista foi bastante teatral. Muitas canções do último álbum “The Nowhere Inn” (2022) encantaram o anfiteatro do Primavera Sound, e levaram-nos a Nova Iorque. Foi um concerto absolutamente sublime.

 

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O último dia do Primavera Sound Porto foi também o mais solarengo de todos. A tarde começou com os portugueses Unsafe Space Garden a encher o Palco Vodafone de alegria e amor. Cantando as dores de crescimento mas também a beleza de o fazer, e tentando incentivar a que juntos elevemos o ser humano ao seu máximo potencial, apresentaram temas do seu álbum mais recente “Where’s The Ground”(2023) e do antecessor “Bro, You Got Something In Your Eye – A Guided Meditation”(2021). De facto, foi uma meditação guiada da qual foi impossível não sair com o espírito levantado.

 

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Os britânicos Yard Act levaram o seu rock ao Palco Porto num concerto frenético e espantoso. Os quarenta minutos de atuação foram suficientes para tocar temas do seu álbum de estreia “The Overload”, que recebeu bastante aclamação internacional quando foi lançado, em 2022. Miúdos e graúdos dançaram ao som de “Dark Days”, “Rick”, “100% Endurance”, entre outros.

 

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Ainda antes de terminar o set da banda de rock britânica, já flowerovlove começava a sua atuação no palco Plenitude. Os seus contagiantes dezoito anos rejuvenesceram o público, que a olhava fascinado. No entanto, não querendo que toda a atenção fosse para ela, escolheu duas pessoas para se juntarem a ela no palco. Perguntou-lhes o que mais gostavam nelas próprias, um exercício que aconselhou a que todos fizéssemos. E qual não foi o espanto geral, quando uma das fãs revelou também ela ser cantora. De imediato, flowerovlove cedeu-lhe o microfone e um excerto de um tema de Amy Winehouse foi belíssimamente entoado numa verdadeira comunhão de música e amor.

Após concertos de Israel Fernández y Diego Del Morao e Sparks nos palcos Vodafone e Porto, respetivamente, era a vez de Nation of Language liderarem no palco Super Bock. Estes foram capazes de trazer de novo não só o post punk, mas também o techno pop, fazendo ecoar os anos 70 e 80 e lembrando-nos de Joy Division e New Order. Tocaram temas de ambos os seus álbuns, “Introduction, Presence”(2020) e “A Way Forward”(2021) e ainda do seu single mais recente “Stumbling Still”(2023).

 

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Enquanto Halsey tomava conta do Palco Porto, Yves Tumor teve aparição marcada no Palco Super Bock. Sean Bowie entregou-se completamente a um público rendido. Havendo quem compare a sua voz a Lenny Kravitz, em palco ele segue as pisadas de outros Bowie que o antecederam com uma atuação única. Tocou maioritariamente temas do seu álbum mais recente “Praise a Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Beyween Worlds)”(2023), adicionando também alguns temas do seu EP lançado em 2021 “The Asymptotical World”. 

 

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Se o concerto de Nation of Language serviu como uma evocação a New Order, resultou bastante bem. Passadas umas horas, apareceram os britânicos no Palco Vodafone. O facto de terem atuado no Festival Vodafone Paredes de Coura em 2019 não diminuiu a receção que tiveram. Um grande conjunto de pessoas os esperava, com todas as suas letras na ponta da língua. Grupos de amigos abraçavam-se alegremente enquanto cantavam músicas como “Age Of Consent”, “Be A Rebel”, “Bizarre Love Triangle”, “Blue Monday” e “Temptation”. Infelizmente, problemas técnicos durante o concerto tornaram impossível que se tocasse “True Faith” até ao fim, embora a banda tentasse recomeçar duas vezes. Ainda assim, nada impediu que o todas aquelas pessoas entoassem “Love Will Tear Us Apart”, enquanto uma fotografia de Ian Curtis aparecia no ecrã gigante. Não importa quantas vezes se vê New Order na vida, momentos como este serão sempre, sempre, especiais.

 

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Sem tempo para recuperar emocionalmente, dirigimo-nos ao Palco Porto, onde os grandes Blur se seguiam. Aqui, sentia-se a nostalgia, a expectativa de pessoas que estavam ali para ver a banda da sua vida. Este concerto foi tudo o que poderia (e deveria) ser esperado. Saltos, dança, berros. Abraços, lágrimas, memórias. Vida. Nenhum dos clássicos se ausentou. “Beetlebum”, “Coffe & TV”, “Parklife”, “Girls & Boys”, “Song 2”, todas estas grandes canções tiveram o seu momento de glória.

 

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Para muitos, este foi o concerto que encerrou o Primavera Sound Porto 2023 – embora houvessem, de seguida, nomes como Unwound e Drain Gang. Os que cederam às dores de costas e cansaço no final de Blur abandonaram o recinto repletos de sorrisos. Perguntando-se como já tinham passado os quatro dias pelos quais tanto tinham esperado. Prometendo voltar no próximo ano. Enquanto abandonavam o recinto, talvez ecoassem ainda as palavras de Blur:

 

“All the people

So many people

And they all go hand-in-hand

Hand-in-hand through their parklife”

 

Maria Alves da Silva

Mariana Varejão de Magalhães

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