O Teatro TicTac apresenta: “LOUCULOS”
Estreou na passada sexta-feira, dia 2, a peça teatral “LOUCULOS” com encenação de Tó Maia. Esta é uma adaptação de “O Julgamento de Lúculo” de Bertolt Brecht, levada a cabo pelo Teatro Amador de Ciências, o TicTac.
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Imagem da autoria de Sérgio Jesus
Inspirada na figura histórica de um general romano, a ação inicia-se no momento da morte do general Lúculo, em que a sua vida repleta de espantosas vitórias militares é aclamada por toda a Roma. Lúculo chega, então, ao Reino das Sombras rodeado de um enorme séquito e cheio de orgulho e soberba mas depressa se encontra sozinho diante do Supremo Tribunal do Reino e apercebe-se de um facto surpreendente: no mundo dos mortos, todos desconhecem o seu nome. Ainda mais surpreendentes são os jurados dos quais o destino da sua alma depende: um lavrador, um escravo (outrora professor), uma peixeira, um padeiro e uma cortesã.
Com o intuito de dar a conhecer os seus feitos heróicos e, assim, garantir a sua entrada no Reino dos Bem-Aventurados, Lúculo chama para testemunhas as figuras esculpidas no friso triunfal do seu túmulo que, perante a ordem do Juíz dos Mortos, se humanizam. É do testemunho de todas estas personagens, que sentiram diretamente as consequências das guerras lideradas por Lúculo, que depende o veredicto final. Poderá a alma de Lúculo ser salva ou gritarão os Juízes “Ao nada com ele!”?
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Imagem da autoria de Sérgio Jesus
Originalmente escrita como uma peça para teatro radiofónico em 1939, esta foi transformada, anos mais tarde, pelo próprio autor e pelo compositor Paul Dessau, para ser exibida como uma ópera. Quando questionado sobre a existência de algum desafio em adaptar o texto a uma peça teatral, o encenador Tó Maia nega qualquer obstáculo, realçando a qualidade do autor e a intemporalidade da obra como os principais motivos que o levaram a querer levar esta peça a cena.
“A questão da guerra tem muitos desafios. Para já, toda a dimensão trágica e toda a miséria e destruição que trás consigo. E falo, sobretudo, da questão humana. Mas também há outro lado, o lado mais perverso, que é as riquezas.”
E desengane-se quem pense que a escolha da peça surgiu apenas como um comentário à atual situação política da Europa. Embora admita que o tema se tornou especialmente relevante nos dias de hoje, o encenador salienta a sua intenção de encenar esta peça em 2020, altura em que a pandemia lhe estragou os planos. Não só não era possível ensaiar presencialmente, como viu o seu elenco drasticamente reduzido.
Este ano voltou a ter um elenco numeroso, o que lhe permitiu levar esta peça a cena. No entanto, isto acabava por representar um desafio, devido ao reduzido espaço disponível para a encenação da mesma. Assim, é importante salientar a forma criativa como este espaço foi rearranjado, permitindo a existência de dois palcos principais e um pequeno corredor de comunicação entre eles, ladeado pelos lugares da plateia. Enquanto as personagens ora avançavam, ora recuavam entre os dois palcos, o público encontrava-se bastante próximo do centro da ação e de todo o elenco.
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Imagem da autoria de Sérgio Jesus
“Para mim não há teatro amador naquele sentido pejorativo, as exigências têm de ser as mesmas. (…) Temos que ir mais além porque é de arte que estamos a falar.”
E todos os atores fizeram jus às palavras do encenador Tó Maia nessa noite de estreia, presenteando o público com performances que comandavam sem esforço a atenção dos espectadores e nos transportavam para dentro da própria história.
A contribuir para esta total imersão no espetáculo estavam outros elementos da produção como, por exemplo, o guarda-roupa. À conversa com um membro da direcção do TicTac, David Carvalho, foi possível ficar a conhecer a sua origem.
“Pegamos na roupa que o TicTac já tinha guardada no seu espólio e fizemos um workshop de transformação desses figurinos. Cortamos, voltamos a costurar tudo, transformamos completamente o nosso guarda-roupa.”
Este exercício de criatividade deu origem a um guarda-roupa colorido e visualmente apelativo. Era ainda notória uma atenção minuciosa aos detalhes, para que as personagens que necessitavam de ter um maior destaque, tivessem no seu vestuário algum elemento diferenciador.
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Imagem da autoria de Sérgio Jesus
Assim, a encenação de “LOUCULOS” é o culminar de vários meses de trabalho por parte dos estudantes e ex-estudantes que pertencem ao TicTac. Tal como explica o seu presidente, Pedro Paupério, a preparação para a encenação de uma peça inicia-se sempre com um workshop de Iniciação ao Teatro, aberto a todos os que se queiram juntar ao TicTac. A partir daí, é apenas necessário mostrar dedicação e deixar o gosto pelo teatro desenvolver-se ao mesmo tempo que se formam novas amizades. Nas palavras de Pedro Paupério:
“O que nós queremos é que mais pessoas venham para o TicTac, reconheçam o nome e que se apaixonem, como eu me apaixonei, pelo projeto. Porque, uma vez entrando, nós sentimo-nos mesmo em família.”
Se ficaste curioso sobre o trabalho do TicTac podes saber mais sobre o projeto nas suas redes sociais. E, claro, ainda vais a tempo de reservar o teu bilhete para as sessões de “LOUCULOS” nos próximos dias 9,10 e 11 de Julho.
Boas idas ao teatro!
Mariana Gil
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