“Errôr” – à conversa com os Linda Martini no Vodafone Paredes de Coura 2022

Linda Martini, a banda lisboeta composta por Cláudia Guerreiro, Hélio Morais e André Henriques, brilhou no primeiro dia do festival Vodafone Paredes de Coura com ritmos eletrizantes que se espalharam por todo o habitat natural da música. O guitarrista Rui Carvalho, conhecido musicalmente como Filho da Mãe, juntou-se à banda para presentear o público com as canções do mais recente álbum “Errôr”(2022).

A Engenharia Rádio esteve à conversa com a banda para saber mais sobre este álbum!

Linda Martini ©Ana Viotti

 

Engenharia Rádio (ER):  Como se sentiram, em cima do palco, a partilhar este novo disco?

André Henriques (AH): Foi muito fixe porque, para já, foi o palco que temos vindo a partilhar com o Rui (Filho da Mãe) desde que o disco saiu, e tem sido uma experiência incrível. São reencontros, porque todos nós (Linda Martini) temos vida construída com o Rui, seja artisticamente, seja afetivamente. Aliás, estas duas cruzam-se.

Cláudia Guerreiro (CG): Somos todos casados com o Rui (risos).

AH: E terminar o verão a tocar neste palco com este público é só maravilhoso.

ER: E foi abençoado por esta chuva!

CG: É isso! Concerto molhado, concerto abençoado!

 

ER:  O vosso mais recente álbum “Errôr” nasceu a partir de algum erro em concreto? Como é que surgiu o nome?

Hélio Morais (HM): Opá, os nomes são uma coisa muito maturada e muito discutida da nossa parte e, às vezes, não é fácil. Acabámos por chegar ao nome no final, já o disco estava composto e quase terminado. Teve um pouco que ver com a questão da pandemia, porque o disco foi gravado nas circunstâncias que todos nós sabemos e foi sucessivamente adiado, tanto a gravação como a composição que acabou por gerar uma série de questões que nenhum de nós anteciparia, como no resto da vida de todas as pessoas. A ideia do “Errôr”, do errante, de andares numa viagem sem rumo, pareceu-nos uma ideia interessante para ilustrar esta coisa do que se passou: um disco gravado com máscaras, com distância, com o precisares de um certificado e autorização para saíres de casa. Parece uma coisa do paranormal, de ficção. Realmente, estávamos a fazer música, mas não sabíamos bem quando ia sair nem quando iríamos dar um concerto, então, era essa ideia de uma viagem sem rumo.

 

ER: Se pudessem pintar este álbum com uma cor, qual seria?

Todos: Preto e branco.

CG: Pelo próprio álbum, pela imagem atrás do palco, pelas nossas roupas, pelas luzes … É mesmo um disco a preto e branco, sem dúvida!

 

ER: Como surgiu a capa do Álbum?

CG: A capa surgiu de várias experiências, na procura de alguma coisa. No fundo, não foi feita especificamente para este disco, mas foi um processo pelo qual eu estava a passar, que era de descobrir uma coisa nova e que, na verdade, se junta muito bem com esta ideia de “Errôr”. Então, achámos que fazia todo o sentido. Eu andava à procura de alguma coisa, e apareceu aquilo que parece ser um monstro de quatro patas. É assim uma coisa bizarra. Não é fruto de um erro mas é fruto de uma procura, e, quando se procura, encontra-se alguma coisa, do mesmo modo que nós encontrámos o disco, encontrou-se aquela imagem.

 

 

ER: A canção “Super Fixe” aborda o tema da saúde mental através de uma espécie de conversa telefónica que poderia ter acontecido entre qualquer dupla de amigos. Sentiram a necessidade de explorar este tema, especialmente por parte do álbum ter sido construído durante tempos pandémicos?

HM: Sim, porque a questão da pandemia acabou por isolar muita gente. Houve gente que passou aqueles meses de isolamento com familiares, e outras que passaram sozinhas. A canção até pode ter uma leitura para além da pandemia, porque tem muito que ver com aquele sentimento de tu às vezes não estares bem, mas não conseguires manifestar para as pessoas que estão mais próximas de ti. Então, vais-te afundando naquele buraco até que pode ser tarde demais para alguém te conseguir ajudar e perceber em que estado mental estás. Se eu pensar na questão da inspiração, é muito difícil, porque tudo te inspira: tudo o que está à tua volta, tudo o que está a acontecer, mas, sem dúvida, que a pandemia e aquele estado de sufoco e de aperto, que é uma questão transversal ao disco influenciou, apesar de ter uma leitura que não se esgota na pandemia.

 

ER: Apesar do álbum querer deambular, até onde gostariam de o levar?

CG: Não posso dizer isto, desculpem (risos).

HM: Ah! Eu sei o que ias dizer.

AH: Eu também sei – SANT FELIU DE GUÍXOLS!!!

CG: Exatamente, Sant Feliu de Guíxols, que é em Barcelona. É de onde é o nosso amigo que nos gravou o disco. Desta vez, ele veio cá, no disco anterior fomos até ele para gravar lá, e adorávamos poder tocar lá este disco porque tem muito que ver com o início da cena musical em que nós nos inserimos, onde começámos a tocar, as bandas com que tocávamos, e, de alguma maneira, tem esse significado de início de alguma coisa. Por isso, era muito bom voltar a tocar lá. Não é grande ambição, é tipo o Cacém de Barcelona (risos).

AH: Mas com praia (risos).

 

ER: Nestes 19 anos de Linda Martini, qual foi o maior erro que cometeram em palco e que ninguém do público tenha reparado?

CG: Todos os dias. Hoje houve vários da minha parte, vou já admitir aqui. Já tive declarações amigáveis a dizer “ah, enganaste-te muito, mas não faz mal. Ninguém notou”. Mas já estou aqui a avisar que sim. E já nos disseram “Concentrem-se”, a sério (risos).

 

ER: O que diria este álbum ao “Olhos de mongol” (primeiro álbum)?

AH: Tshh … Ganda menino!

HM: Toma!

AH: Eu sou um optimista, não em muitas coisas da minha vida, mas na música que fazemos sou mesmo optimista. Sempre que gravamos um disco, eu digo sempre “este é o melhor disco que já fizemos”. E eu sinto mesmo isso. Aquilo que sabíamos quando tinhamos 26/27 anos que foi quando fizemos esse primeiro disco, de certeza que aprendemos uns truques novos desde então. De disco para disco, acho que é comum a todos, tu tentas sempre “mandar mais para frente” e, às vezes, fazer coisas que tu próprio não sabes como é que vais fazer, mas tentas esforçar até que as coisas aconteçam. E, portanto, acho que este disco é muito melhor do que o primeiro.

CG: Este disco diria ao primeiro “vai correr tudo bem”!

 

Maria Alves da Silva

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