Super Bock Super Rock 2022 – 3 dias para sempre!

A história da 26ª edição do Super Bock Super Rock sofreu várias reviravoltas. Tudo estava preparado para que fossem criadas memórias na praia do Meco, em Sesimbra, mas entrelinhas deram um plot twist inesperado. Ao ser decretado o alerta vermelho para o risco de incêndio, a única solução para impedir o cancelamento do festival foi a mudança repentina para a Meca de todos os grandes concertos – o Altice Arena.

Em 2 dias (sim, 2), montou-se um festival de 3 dias, que se preparava para acolher milhares de festivaleiros sedentos de boa música, do espírito que o Super Bock Super Rock tão bem consegue criar, e para dar forma a um cartaz bem eclético e de alto gabarito, que prometia embalsamar memórias para todo o sempre. Prometeu e cumpriu – quase sempre, mas já aí vamos.

 

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Conjunto Cuca Monga

Reza a lenda que o coletivo composto por B1SHPØ, Capitão Fausto, El Salvador, Ganso, Catarina Branco, Guanabara, Luís Severo, Modernos, Rapaz Ego, Reis da República e Zarco, surgiu de risadas brindadas de amizade e juraram de mindinhos que assim seria para sempre. A sua atuação no Super Bock Super Rock não foi excepção. Uma atuação que transbordou festa, frescura e talento.

Desconfinaram o belo álbum construído em tempos pandémicos “Cuca Vida” (2020) cujo processo de criação foi algo, no mínimo, peculiar – passaram ideias em forma de áudios, de artista em artista (em género de batata quente) e, no final, criaram uma iguaria bem condimentada que viria a aquecer múltiplos corações. 

Para além do repertório deste álbum, destacando canções como “Travessia”, “Os amigos”, “Tou na moda”, “Liberdade” entre outras, foi acrescentada a mais especial das canções, “Feira das memórias”, do álbum “Spazutempo” (2019) dos Zarco – uma bonita homenagem ao eterno membro do Conjunto, Gastão. Sentiu-se a saudade misturada de alegria que vibrava em cada um dos que estavam a absorver aquele espetáculo.

 

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T-REX

Num serão que se adivinhava de novidades e de elevadas expectativas a cumprir, T-Rex desbrava um pouco mais este caminho com a oficial inauguração do Palco Super Bock. Trouxe consigo a energia que já o carateriza e esta mesma entrega em palco refletiu-se num número de fãs a assisti-lo cada vez maior. O seu rap de fusão com R&B e até trap ecoou pelo Altice Area e numerosos convidados também se juntaram para fazer a festa.

O “Chá de Camomila” ficou-se pelo palco – o público vibrou e cantou com T-Rex, sem calma alguma. Assim se abriram as portas de um palco com ainda muitas histórias para contar.

 

 

 

Fred

Escapulimo-nos rapidamente do Palco Super Bock em busca de jantar. E é neste cenário que descobrimos mais uma vantagem: sermos embaladas pela fusão de hip-hop e jazz de Fred Ferreira no palco LG, enquanto degustamos o jantar quase tanto como o quente sol de fim de tarde.

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Metronomy

A banda britânica que se estreou no cartaz do Super Bock Super rock em 2014, no Meco, prometia a frescura e o brinde ao verão tão ansiado por todos os festivaleiros. Apesar de ter sido no interior na arena, o ar condicionado foi a brisa que permitiu suportar os quase-40ºC que se faziam sentir nesse dia. O próprio vocalista e guitarrista, Joseph Mount, ficara aliviado de ter trazido calções, como referia entre canções.

As temperaturas foram subindo de forma gradual, ora não fosse possível ficar indiferente aos ritmos de nu-disco, embrulhados em indie e eletrónica. Houve tempo de degustar as canções do mais recente álbum “Small World” (2022), e viajar no tempo ao ritmo do álbum “Love Letters” (2014), onde a canção que partilha o nome do álbum teve um sabor especial, e ainda à obra de arte “The English Riviera” (2011). Como seria de esperar, as canções do álbum mais vintage – “The look”, “Everything goes my way” foram o mote para o pico de energia que se instalou na arena de todos os sonhos.

A banda composta por Joseph Mount, Oscar Cash, Anna Prior, Olugbenga Adelekan e Michael Lovett, conseguiu o que prometera e a atmosfera estival ficara instalada no Parque das Nações.

 

 

 

Leon Bridges

Todd Michael Bridges, mais conhecido por Leon Bridges, iluminou o Altice Arena com soul, e na alma dos festivaleiros ficou. O cantor e compositor de Atlanta que atuara no Coliseu do Porto uns dias antes do Super Bock Super Rock, transbordou o palco dos sonhos de soul clássico que tanto lhe caracteriza.

Apresentou graciosamente as canções da triologia de álbuns, com a sua voz de veludo e o seu estilo retro. Um dos momentos mais aguardados foi a colabração musical com a banda texana khruangbin – “Texas Sun”, onde se pintou o pôr-do-sol na capa no grande ecrã. Um momento que envolveu todos os presentes que, fervilhavam, pela estreia que se seguiria a este concerto – ASAP ROCKY. Ainda assim, Texas Sun  foi a canção que fez compôr o Altice Arena (ou, talvez, a proximidade do concerto seguinte – paira o mistério), juntamente com a balada “River” do álbum “Coming Home” (2015). Foi um concerto bonito de viver.

 

 

 

A$AP ROCKY

Mesmo após a saída de Leon Bridgers, o Altice Arena ainda se mostra bastante recheada. Um olhar mais atento demonstra que são já os elétricos fãs de ASAP Rocky, ávidos pelo lugar mais próximo possível do artista.

Finda-se o silêncio preparatório com uma rouca voz mecânica, que instrui imperativamente as regras do concerto que se segue:

1) moshing,

2) enjoy yourselves and

3) be safe.

 

Os fãs não ousaram desafiá-las.

E, assim, eletricidade viajou sonicamente do público para o palco e do palco para o público. Apesar do atraso e de se assumir doente, o rapper nova-iorquino não falhou na entrega. Num concerto magnético que não falhou aos fãs mais antigos (com já clássicos como “L$D”) nem aos mais recentes (com “Praise The Lord”, fruto do seu último álbum “Testing”(2018)), os ânimos ferveram. Sim, um aquecimento não faria jus. Perdoem-nos pela excitação, escusado será dizer que estávamos bastante focadas em cumprir a primeira regra.

 

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David & Miguel

Poderíamos sumarizar a icónica dupla David & Miguel como a combinação relativamente provável a cantar uma portugalidade improvável. David Bruno, produtor, e Mike El Nite, rapper, unem-se para dar novos toques numa liga que ambos já dominavam a solo, o hip-hop português. Aliás, criam uma nova liga pelo meio. Juntando ‘Marquito’ à guitarra e o DJ António Bandeiras o resultado é um espetáculo romântico digno das duplas de cantores latinos dos anos 80, que serviram aliás de inspiração para os seus temas de Palavras Cruzadas, álbum lançado em 2021.

Viajaram pelas mágicas terras de Portugal e seus costumes com os devotos fãs que, aliás, foram extremamente bem recompensados pela sua entrega – David Bruno terminou o concerto no meio do público, para “poder sentir o povo”, como manda o bom português.

 

 

 

 

Nathy Peluso

As luzes reduziram gradualmente a sua intensidade, ouviam-se gritos eufóricos e sorrisos nervosos para o que aí vinha. Ouviu-se o primeiro acorde de um trompete, um beat de suspense e um holofote que desenhara uma luz branca à qual foi acrescentada a sombra daquela que era um dos grandes nomes a pisar o palco de todos os sonhos, a cantora argentina – Nathy Peluso. 

O público ficou ao rubro e seguiu-se a primeira canção. Num estilo com ritmos de hip-hop, R&B e latino, Nathy Peluso foi desfilando com a intensidade que tanto lhe caracteriza. A energia do público quase que atingiu o máximo com a música “Sana Sana”, mas foi no ritmo de salsa que a energia atingiu o seu pico, espoletando passos de sangue quente de terras argentinas, mais precisamente com “Mafiosa” e “Puro Veneno”. O sangue a fervilhar acalmou na carta a “Buenos Aires” – uma homenagem à cidade berço da cantora. 

O espetáculo foi estrondoso. Nathy Peluso tem uma energia que não se esgota com saltos à corda, flexões à mistura, e, claro, cantar. A versatilidade da cantora, intensidade em cada compasso de movimento tornou este concerto num dos melhores do Super Bock Super Rock.

 

 

C. Tangana

Ainda sob os efeitos da injeção de energia proporcionada pelo concerto de Nathy Peluso, voou-se de terras onde a salsa é rainha para a terra do flamenco na nave do capitão, C. Tangana. O mais curioso foi a magia na partilha de idioma e de intensidade do sangue latino de ambos os artistas. O alinhamento perfeito para uma noite memorável.

Um concerto-filme-musical-digno-de-oscar-obra-de-arte, foi o colar que mais se aproxima ao que foi o concerto de Antón Álvarez Alfaro, mais conhecido por C. Tangana. Todas as ruas foram dar à casa de flamenco recriada em palco, composto por pequenas mesas redondas, com toalhas cinzentas aperaltadas de refrescos e rodeadas de amigos. Todos foram convidados a juntar-se à grande festa que se seguiria.

O rapper de Madrid (en)cantou com o repertório do seu álbum “El Madrileño”(2021), onde “Demasiadas Mujeres”, “Un Veneno” tiveram lugar de destaque, mas, a seleção é bastante difícil. Infelizmente, não houve dueto com Nathy Pleuso na “Ateo”, mas houve momento de flamenco puro, que, entre palmas ritmadas em sintonia com o bater dos corações, conquistou o público.

O ambiente foi de festa entre amigos, com direito a chuva de champagne e um final digno de musical premiado com Óscar. As palavras são parcas e jamais suficientes para descrever a energia que por lá se sentiu. Foi só sublime.

 

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DaBaby

Chega a hora de um dos concertos mais especulados da noite. Obedecemos religiosamente e procuramos o melhor lugar possível. DaBaby, por oposição, não obedece.

Durante 45 minutos o público mostra-se desconcertado, a mover-se frivolamente ao som das escolhas de um DJ que ordena que se faça barulho para o DaBaby (que, diga-se de passagem, parece já mais um D. Sebastião por esta hora). A equipa de DaBaby parece partilhar do mesmo sentimento, percorrendo o palco há procura de um sinal divino para dar início ao concerto. Cá entre nós, parece-nos que o sinal divino que aguardam é o preenchimento da Altice Arena – poucas horas antes o rapper norte-americano havia anunciado um “grande concerto em Portugal, para 40000 pessoas”. Novamente, cá entre nós, o Altice Arena apenas alberga 20000 pessoas.

O concerto segue o mesmo padrão de desencanto e displicência da espera que o procedeu. Ouvem-se mais vezes as palavras de ordem de “Make some noise for DaBaby” ou a sua frase de marca, “That’s not DaBaby, that’s my baby” do que o próprio artista. As investidas de interação com o público (cada vez mais diminuto, por sinal) parecem consistir em pedidos de moshpit e, assim, confirmam-no como um dos intervenientes mais dececionantes da noite.

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Goldlink

Desgostosas após um concerto tão amargo, depositamos as nossas esperanças no artista que se segue – Goldlink.

O rapper norte-americano foi capaz de remendar todas as nossas peças partidas e confirmou a sua reputação como artista de riscos, ávido de mudança permanente (como demonstra o seu novo álbum, “HARAM!”). Cantou, dançou, interpretou em plenitude e sem exceção. Viajou por temas como “Herside Story” e “Pray Everyday”, do seu aclamado álbum “At What Cost” (2017) e fez as delícias do seu público fechando o concerto com a já icónica “Crew”. Que o diga o fã que teve o prazer de o acompanhar nestes versos em palco (e que nos deixou a todos com uma certa inveja).

 

 

 

 

 

Mayra Andrade

No último dia de festival, o palco principal recebeu o amor e a doçura em forma de Mayra Andrade. De alma leve, teletransportou os presentes até às terras quentes de Cabo Verde, e com toda a generosidade partilhou todas as suas histórias pelos quatro cantos do globo.

Desde funaná, raggae, batuku, em compasso de música do mundo, a cantora cabo verdiana criou uma bolha de amor e tranquilidade contagiantes através do seu doce timbre e ritmos proporcionados pela banda que a acompanhara.

Sem truques na “Manga” (2019), apenas no seu estilo leve, maravilhou tudo e todos com “Afeto”, “Manga”, “Terra da Saudade” e muitas outras. Entre canções, dedicou cada nota aos que sofrem com os incêndios, enquanto se celebrava ali a festa da música ao vivo. Um concerto divinal que teria sido ainda mais onírico se tivesse sido ao ar livre. No entanto, Mayra e a sua extraordinária banda aqueceram a alma de quem a tinha aberto para receber esta poção de amor.

 

 

Capitão Fausto & Martim Sousa Tavares

Era perto de hora de jantar quando se viu todo o arsenal de instrumentos que ali se preparava para encantar. Entrou primeiramente a orquestra, posteriormente o maestro, Martim Sousa Tavares, e, por fim, a banda Capitão Fausto.

A banda lisboeta composta por Tomás Wallenstein, Domingos Coimbra, Manuel Palha, Francisco Ferreira e Salvador Seabra, tocou os seus temas clássicos, dos múltiplos álbuns que constam no seu CV, com ajustes delicados do maestro, sempre com a dose certa de magia. Infelizmente, não se ouviram todos os instrumentos em partes onde estes prometiam ser protagonistas. No entanto, perto do final do concerto foi dado o volume certo a todas as emoções. 

Para além do repertório habitual, foi adicionada a canção “Recomeçar” do Tim Bernardes, vocalista e guitarrista da banda brasileira “O Terno”.

O concerto foi uma abordagem refrescante à habitual energia da banda, sendo que terminou com a frenética “Sant’Ana” que instalou a energia que haveria de durar a noite toda.

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Foals

Chegou o momento de todos os holofotes incidirem no palco para receber um dos nomes mais aguardados do festival, os Foals. A banda britânica composta por Yannis Philippakis, Jack Bevan e Jimmy Smith pisou o palco com milhares de olhos apontados para eles, sendo que, neste momento, o Altice Arena estava a transbordar de festivaleiros.

Os Foals foram recebidos numa maré de aplausos, e rapidamente deram início a um espetáculo de guitarradas e compassos marcantes. Começaram por “Wake me up”, mas poucos foram aqueles que acordaram do sonho que estavam a viver. Percorreram “Mountain at my gates”,  “The Runner”, “2am”, chegando à delirante “My namber” que foi cantada com todos os pulmões. A despedida foi ao som de “Two step, twice”, que já era cantada com a futura saudade daquele que foi um dos grandes concertos do festival.

A atuação foi uma bonita troca de presentes entre artista e público, com embrulho de rock e um laço de obrigadas.

 

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Filipe Karlsson

Quase a terminar a aventura pelo Super Bock Super Rock, partimos do palco principal para o palco EDP, ao ar livre, onde nos iriámos encontrar com o artista luso-sueco, Filipe Karlsson. Entra em palco embalado por gritos e palmas, porque quem estaria ali saberia que seria épico – e foi.

Viajou-se pelo seu repertório, mais precisamente, pelos EP’s “Teorias do bem estar” (2020), “Modéstia à parte” (2020) e “Mãos Atadas” (2021). “Bem estar” instalado, canção após canção, dinamizado magistralmente pelo artista, com booms de energia aquando a música “Madrugada”.

As teorias do bem estar foram testadas e bem aceites por todos, dançadas com toda a energia, e saboreadas até ao último momento.

 

Lhast

Novamente, fazemos a já costumeira transição tática entre o Palco Principal é o Palco EDP, desta vez para o concerto de Lhast. E aqui se coloca já um fator de novidade.

Conhecemo-lo maioritariamente como produtor, a peça discreta porém vital para muitos dos maiores sucessos nacionais da última década, de artistas como Richie Campbell, ProfJam, Regula, Dillaz, entre tantos outros. Aqui, veste ainda mais uma camada, a de intérprete, e traz ao palco o seu álbum AMOR’FATTI (2020).

Os fãs responderam à sua entrega à altura e receberam agradecimentos proporcionais – Lhast não escondeu o orgulho em ser agora artista num festival onde assistiu aos “melhores concertos da sua vida”.

 

 

Até sempre!

Maria Alves da Silva

Mariana M. Martins

 

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