Viajar com Encontros Marcados – sugestão de leitura

Vida de estudante e amante de leitura não é fácil. Durante as aulas, depois de passar dia e noite a queimar as pestanas à luz do computador, esgotando toda a energia cerebral, a vontade de pegar num livro, mesmo que estejamos desejosos de o ler, é diminuta. E o inevitável acontece: adormecemos em cinco minutos, deitados no sofá, tendo como barulho de fundo o primeiro episódio de uma nova série impingida por um qualquer serviço de streaming.

Por esta razão, encontrar o livro perfeito é essencial para manter vivos os hábitos literários. Este tem de reunir umas qualidades um tanto contraditórias: cativante, para não sentirmos que estamos de volta às amaldiçoadas sebentas, mas que permita ser lido aos bocadinhos, entre pausas no estudo ou na viagem até à faculdade sem medo de nos perdermos no meio de um enredo demasiado complicado.

Nesta busca pelo livro perfeito, Encontros Marcados representa uma excelente alternativa, se conseguirmos ignorar a inveja crescente que sentimos pelo autor, à medida que este descreve o seu estilo de vida. Gonçalo Cadilhe nasceu na Figueira da Foz, em 1968,e licenciou-se em Gestão de Empresas. Depois de perceber que um trabalho das nove às cinco não era para si, começou a viajar e a escrever sobre as suas viagens de forma profissional em 1993.

Encontros Marcados é o seu nono livro publicado e, nas palavras do autor, o seu trabalho mais pessoal. Este é constituído por pequenas crónicas, algumas das quais já tinham sido publicadas em revistas ou jornais em anos anteriores. Portanto, não se debruçam sobre uma única viagem mas sim sobre os numerosos destinos, regressos e novas partidas que preencheram e continuam a preencher a vida do escritor. Gonçalo Cadilhe procura encontrar no meio de tantos episódios e encontros caricatos aqueles que, em retrospetiva, o definiram enquanto pessoa e viajante.

Para concretizar esta missão vai saltando sem preocupação as barreiras do tempo e do espaço levando-nos de um continente para o outro em menos de dez páginas e voltando o seu foco tanto para as histórias da sua infância, altura em que conheceu as suas duas paixões (o surf e as viagens), como para as peripécias que tiveram lugar no seu último projeto.

Não seguindo uma ordem geográfica ou temporal específica, estes episódios corriam o risco de parecerem dispersos ou desligados de um propósito maior. Para contrariar esta tendência, o autor escolhe momentos apropriados para alargar o seu campo de visão e integrar os acontecimentos na sua história pessoal, procurando compreender de que forma estes o afetaram e transformaram na pessoa que é hoje. Tal como as peças de um puzzle, cada uma das crónicas, apesar de poderem ser lidas individualmente, encaixam na perfeição neste que é o destino que Gonçalo Cadilhe definiu para si. Segundo o próprio, acredita no destino só depois de ele ter acontecido, ou seja, a seu ver, todos os encontros são acidentais até ao momento em que, olhando para trás, percebe porque é que estes tiveram de acontecer.

Não interessa se a intenção do leitor é ler o livro do princípio ao fim num único dia ou ir lendo alguns excertos, devagarinho e sem pressas, quando o tempo o proporcionar. Em ambos os casos, o sentimento quando, por fim, se vira a última página é o mesmo: uma vontade renovada de (re)descobrir o mundo e a nós próprios.

 

Mariana Gil

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