Tim Hecker no Passos Manuel – Vivarium Festival

A segunda edição do Vivarium Festival decorreu entre os dias 28 e 30 de março, no Porto, em vários locais como Maus Hábitos, Ateneu Comercial e Cinema Passos Manuel. Neste festival, que junta várias artes performativas e que, segundo a sua mesma definição, tem “um programa que cruza as áreas da música, performance, dança interativa, artes visuais e new media e pensamento”,  esteve presente o músico e produtor canadiano Tim Hecker, que passou pelo Passos Manuel no dia 30 de março como forma de conclusão do festival.

Tim Hecker, genial músico canadiano que nos presenteou em 2018 com Konoyo (nono álbum da sua autoria) e que lançará expectavelmente este ano o álbum Anoyo, misturou, durante toda a sua carreira, a música ambient, drone e noise de diferentes formas por toda a sua discografia. Para além dessa mistura, incorporou diferentes sons pelos diversos álbuns, como as sonoridades japonesas no seu último álbum aqui já referido, Konoyo, ou sons mais frios e crus no álbum Virgins. Tal deu origem a uma das discografias mais originais e experimentais no mundo da música eletrónica, onde se podem destacar os geniais e para quem escreve, imaculados, Harmony in Ultraviolet, Virgins ou Ravedeath, 1972.

Todos os álbuns de Tim Hecker oferecem experiências diferentes e este concerto não foi exceção. A sala, que tem lugares sentados, encontrava-se enevoada ao ponto do palco ser muito pouco visível, mesmo nas filas dianteiras. Com a entrada de Tim Hecker e com os primeiros sons do concerto, que teve a duração de uma hora, foi anunciado o início de uma experiência inesquecível. Devido à pouca utilidade do sentido da visão, o público foi transportado para um mundo criado pelo artista apenas a partir da música que este decidiu passar, principalmente Konoyo, mundo este que se apresentou inicialmente como calmo e que incentivou a uma análise introspectiva, caso se fechasse os olhos, graças ao ritmo lento com que iniciou o concerto. No entanto, ouvir todo este trabalho num volume mais elevado do que normalmente se ouviria em estúdio fez surgir logo de início um pequeno sinal de urgência.

Com a progressão do concerto, notou-se o aumento de intensidade na música com pequenos sons agudos a cortarem a parede de “barulho” grave e o público é transportado para outros locais que funcionam cada vez mais a um ritmo mais acelerado, quase como se não houvesse tempo, quase como um ataque de ansiedade. Tudo isto atinge um final que mesmo mais calmo, menos intenso, continua a apresentar-se urgente e sem dar conta do tempo, o concerto atinge o seu fim naquilo que foi uma experiência surpreendente, pesada e inesquecível.

 

Tomás Carneiro

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