Opinião: “Corrente” – Projeto Teatral FEUP

Um telefone antigo solitariamente pousado em cima de uma mesa. Era este objeto intrigante que marcava o local de início da peça teatral “Corrente”, que estreou há exatamente uma semana na FEUP.

Esta é fruto do Projeto Teatral FEUP que regressou agora ao ativo, após anos de paragem imposta pela pandemia. A iniciativa contou ainda com a colaboração da encenadora e dramaturga Joana Moraes, que é também diretora cénica do Estúdio de Ópera no Conservatório de Música do Porto e diretora artística da companhia de teatro Musgo.

A dramaturga, em conjunto com o elenco participante, delineou e estruturou a peça que teve como tema central um problema que todos enfrentamos todos os dias: como conciliar a enorme quantidade de informação e estímulos que nos chegam através das novas tecnologias com a necessidade de estarmos verdadeiramente presentes na vida real? Nas palavras dos próprios criadores:

 “Corrente empola realidade. Mas será que ao levantar esse véu nos vemos assim tão longe do lugar onde todos estamos imergidos?“

Neste teatro itinerante, o elenco contava com a colaboração da assistência para se ir deslocando ao longo do edifício B e organizando uma plateia improvisada de cada vez que os atores iniciavam uma nova cena. As constantes deslocações contribuíam de alguma forma para dificultar a imersão no espetáculo. No entanto, esta consequência menos feliz era compensada pelo efeito peculiar de ver os locais que frequentamos no dia-a-dia serem transformados, de forma bastante original, em cenários de teatro.

A audiência acabou por ser encaminhada para o auditório principal da FEUP, onde a peça retomava a ação num formato mais convencional e, assim, decorria até ao fim. Apesar desta mudança de formato, não existia qualquer sensação de desconexão entre as duas partes do espetáculo. Antes pelo contrário, o final da peça apenas ajudava a apreciar a primeira parte de cariz mais experimental, contribuindo para um espetáculo simultaneamente coeso e original.

Infelizmente, as duas noites de exibição de “Corrente” já passaram e, por isso, não posso incentivar nenhum leitor a assistir à peça. Mas recomendaria que, para o próximo ano letivo, estivessem atentos ao Projeto Teatral FEUP que, já sem uma pandemia para lhes arruinar os planos, deve estar de volta com mais um espetáculo produzido por alunos e para os alunos.

 

Mariana Gil

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