Discos de vinil: o Rock and Roll da indústria da música?

2020 foi um ano peculiar e, apesar de não parecer possível, continua a surpreender-nos. No passado mês de fevereiro, a Record Industry Association of America (RIAA) publicou o seu relatório anual de receitas relativo ao ano mencionado. Como seria de esperar, os serviços de streaming são a grande força do mercado, constituindo 83% da totalidade dos rendimentos. O que não seria tão previsível é que, pela primeira vez desde 1986, as receitas de discos de vinil foram superiores às de CDs.

Numa altura em que a tecnologia avança a passos largos e até hotéis espaciais parecem estar à vista, as pessoas voltam-se novamente para algo que, até há poucos anos, não passava de velharias a acumular pó na casa dos avós. Embora surpreendida, não posso dizer que não compreendo – em parte porque também eu faço parte desse clube de nostálgicos do vinil.

O principal argumento a favor da superioridade dos discos assenta no facto de que a qualidade de som é melhor do que qualquer versão digital. Mas a verdade é que a experiência proporcionada pelo vinil não é reprodutível por CDs, cassetes ou pelo premir do play no Youtube. Toda a envolvência do momento em que se põe um vinil a tocar tem um peso preponderante na preferência. Do mesmo modo que os defensores dos livros físicos face aos Ebooks estimam o momento de abertura do livro e a sensação das folhas por entre os seus dedos, também os fãs dos discos de vinil estimam o ato de colocar o vinil no gira-discos e dar à agulha licença para tocar as suas músicas favoritas.

O mais surpreendente é que ter e (bem) cuidar uma coleção de vinis exige alguma dedicação. É muito mais rápido e simples ter uma conta premium do Spotify e pedir à Siri que toque determinada canção. E, ainda assim, muitas pessoas estão a escolher a forma mais “complicada” de ouvir música. Pergunto-me se isso estará relacionado apenas com a estética, a busca pela melhor qualidade de som, ou se há algo mais. Questiono-me se, numa época em que praticamente vivemos em frente a ecrãs, somos constantemente bombardeados com centenas de stories, tiktoks, mensagens no Messenger, Whatsapp, e intermináves chamadas no Zoom, uma pequena parte de nós deseje uma pausa de tudo isto.

Talvez as redes estejam a apertar-nos demais e precisemos de um pouco de folga. Talvez o mundo esteja a ficar demasiado otimizado e o público anseie por investir um pouco de esforço naquilo que o faz feliz. Ou então, talvez este texto tenha sido um clássico fenómeno de overthinking e o regresso do vinil seja temporário, uma moda que, inevitavelmente, se perderá neste mundo digital. Ou então, talvez o vinil seja como o Rock and Roll: it might hibernate from time to time (…) but it’s always waiting there, just around the corner. Ready to make its way back through the sludge and smash through the glass ceiling, looking better than ever.

Mariana Varejão de Magalhães

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