Aulas à distância: experiências e desafios

De todos os desafios que a Covid-19 trouxe à vida de cada um de nós, um dos que mais afeta os estudantes é, sem sombra de dúvidas, a distância social. Afinal, todos sentem falta do contacto com os professores, dos colegas de curso, das conversas na cantina ou nos cafés, dos copos à noite…

A Engenharia Rádio esteve à conversa com alguns estudantes da Universidade do Porto com o objetivo de compreender e partilhar desafios, expectativas e experiências com o ensino à distância.

O nosso primeiro entrevistado, Alexandre Fonseca, tem 25 anos e estuda na Universidade de Letras do Porto. Este ano começou o curso de Mestrado em Ciências da Comunicação, o qual combina com o trabalho de locutor de rádio e a sua paixão pelo teatro e a interpretação.

AIDA: Como foi a tua experiência como estudante quando a pandemia começou?

ALEXANDRE: Foi muito chato, porque nesse momento eu estava a estagiar na Rádio Linear em Vila do Conde, na redação. Lembro-me perfeitamente de estar entusiasmado para pôr em prática o que aprendi na licenciatura e de exercer a profissão de jornalista. Em setembro correu tudo muito bem, até que chegou março. Eu lembro-me do ceticismo que havia em meados de janeiro em relação à covid-19 e da minha orientadora de estágio não querer colocar a covid-19 no nosso agendamento de publicações. Acho que não só os portugueses, como todo o mundo não estava a levar o vírus muito a sério. Então evitamos ao máximo colocar temáticas sobre o mesmo na rádio, de modo a evitar o pânico. Contudo, perto de março, quando começamos a ver que a coisa começava a ficar preta, salvo seja, a covid -19 começou a ocupar tudo o que era agendamento. Chegava uma altura em que os principais meios de comunicação não falavam de outra coisa porque, lá está, passou de ser uma coisa desvalorizada para ser levada a sério. Quando começaram a aparecer os primeiros contágios, evitamos ao máximo estar todos fechados na rádio. Depois, como extracurriculares, eu tinha aulas no teatro do bolhão.Houve um caso de um aluno que começou a estar com sintomas e fomos todos mandados para casa.

AIDA: Conseguiste terminar o estágio e as aulas de teatro?

ALEXANDRE: Sim, consegui terminar o estágio. O meu estágio terminou em julho. Tínhamos previsto 10 meses de estágio e eu comecei em setembro. A partir de março fizemos essa adaptação, eu escrevia as notícias e enviava-as por email à minha chefe para ela ter acesso. Depois fazia-se uma seleção daquelas que seriam feitas para a locução e daquelas que iriam para a página da rádio. Depois disso, nunca mais lá estive. Evitamos ao máximo estar lá! Acabei muitas coisas que tinha pendentes remotamente, assim como a minha formação na Academia Contemporânea do Espetáculo. Não tivemos outra hipótese. E sim, consegui finalizar o estágio através de um computador, mas acho que tínhamos que pensar na saúde pública.

AIDA: Obrigada, Alexandre!

ALEXANDRE: De nada!

 

Para o jornalista Ricardo Welbert Carvalho, de 30 anos, “estava tudo a ir bem, a trabalhar e a estudar” até que a pandemia veio a abalar a vida, sobretudo, a académica. O brasileiro mora em Portugal desde 2019, quando veio para realizar a especialização em Ciências da Comunicação na Universidade do Porto. Em novembro deste ano, decidiu voltar ao Brasil, por um lado, pelo medo de que um segundo ‘lockdown’ acontecesse e, por outro, para ficar mais próximo da família e poder passar o natal com os seus. Para Ricardo, que pretendia permanecer aqui até o final do curso, a pandemia veio mudar todos os seus planos, ao mesmo tempo que as novas tecnologias lhe permitiram continuar os estudos e, inclusive, estar agora mais próximo da família e dos amigos sem perder uma única aula.

AIDA: Notas muita diferença entre como eram dadas as aulas antes, quando a pandemia começou, e como é agora?

RICARDO: Sim, é uma mudança muito drástica e intensa, porque no primeiro ano a gente socializa, conhece os alunos, os professores, tem as aulas presenciais. Agora a gente sente uma falta danada, né? Das pessoas, dos professores… Quando as aulas eram chatas a gente reclamava: “acaba logo”, mas agora o que a gente mais quer é poder estar de novo numa aula presencial. Sentimos falta dessa experiência de vivenciar o ‘campus’, o mestrado! Isso deixa saudade e, infelizmente, com todo o mundo em casa, grande parte dessa experiência é impossibilitada. Mas ainda bem que hoje temos estas tecnologias! Os grupos de WhatsApp também nos ajudam muito a trocar ideias sobre os trabalhos e os exames. As coisas que a gente fazia principalmente nas aulas presenciais, agora fala-se tudo à distância. Claro que o ambiente das universidades não são só as aulas, também são as atividades externas, os famosos copos, que eram uma reflexão sobre o que estamos fazendo ali. A gente espera que estas boas lembranças voltem logo, quando passar a pandemia.

AIDA: Obrigada, Ricardo!

RICARDO: De nada!

O nosso último entrevistado é Gonçalo Ferreira, que tem 25 anos e cursa o Mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade de Letras do Porto. Para o ano, gostaria de realizar um estágio no âmbito de jornalismo desportivo e, assim, poder fazer da sua paixão pelo ténis e por todo o desporto, parte da sua futura profissão.

AIDA: Como foi a tua experiência com as aulas durante a pandemia?

GONÇALO: Como acabei a minha licenciatura em novembro, no final de 2019, não tive aquela experiência que certamente alguns colegas tiveram: de passar às aulas ‘online’ em meados de março. Portanto, estou agora a entrar no mestrado em outubro e enfrentei a nova realidade. Para mim está a ser muito difícil porque sempre me habituei à vida académica e a interagir com os colegas. A própria atenção nas aulas presenciais, acho que é muito mais produtiva, e faz-me estar muito mais focado. Mesmo estudar fora de casa para mim, é muito mais benéfico! Mas temos que nos adaptar às circunstâncias e estamos a fazer os possíveis para poder aprender ao máximo.

AIDA: Obrigada Gonçalo!

GONÇALO: De nada!

De uma forma ou de outra, é possível continuar a ter uma vida académica. Não como a de antes, claro. Contudo, espero que depois desta conversa, não percas a esperança!

Aida Zimmer

 

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