Opinião: “A insustentável leveza do ser” – Milan Kundera

“A insustentável leveza do ser” é o livro que pretende inquietar o leitor nesta questão de como viver. Da autoria de Milan Kundera, escritor checo cujas obras foram proibidas após a invasão soviética, tendo sido galardoado com múltiplos prémios como: Prémio Médicis estrangeiro (1973), Czech State Literature Prize (2007), Prémio Mundial Cino Del Duca (2009), entre outros. “A insustentável leveza do ser” é a sua obra mais emblemática, digna de uma versão cinematográfica em 1988.

O início do ano começa com o balanço do ano anterior, com a sede de querer melhorar e criar objetivos, escritos em papéis que vão ser guardados numa gaveta para depois serem avaliados no final deste ano, com vista a melhorar no ano seguinte. O ser humano é assim, nunca se encontra contente com a balança escolhida, querendo sempre aperfeiçoar-se, esquecendo que é imperfeito nas profundezas do seu ser.

É importante ser, é importante estar, mas o mais importante é dar uso ao verbo viver, com a sede nunca cessada de beber mais amanhãs. A questão que reside é “Como viver?” Será que devemos viver com todos os nossos poros, absorver tudo, ou viver de uma forma leviana, sem criar relações profundas dada a limitação que é vida, porque tem um início e um ponto final?

As primeiras páginas demonstram a alma do livro com a ideia do eterno retorno de Nietzsche pensando que “um dia tudo o que vivem há de se repetir ainda uma e outra vez, até ao infinito” e que “ Se o eterno retorno é o fardo mais pesado, então sobre tal pano de fundo, as nossas vidas podem recortar-se em toda e numa esplêndida leveza”. A questão fulcral do livro é “Que escolher, então? O peso ou a leveza?” Segundo Parménides o universo está dividido em pares de contrários: luz-sombra, espesso-fino, quente-frio, peso-leveza, indicando que em cada dicotomia existe um pólo negativo e outro positivo. Qual atribuir a cada palavra que contempla a contradição mais misteriosa de todas as contradições? Neste sentido, Kundera desenhou diferentes personagens com cada palavra incorporada, criando triângulos nas relações, nem sempre equiláteros, para testar o pólo de cada uma: Tomás (leveza masculina), Tereza (peso feminino), Sabina (leveza feminina), Franz (peso masculino).

A exploração de mil e uma ideias em tom filosófico em torno dos comportamentos individuais e sociais, criticando estereótipos, juntamente com uma escrita clara, de uma beleza leve, recorrendo à maiêutica socrática para estimular o raciocínio, fazem com que esta obra seja de leitura obrigatória!

Para terminar, recomenda-se uma inspiração na obra em tom musical.

Boas leituras!

 

Maria Alves da Silva

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