12 álbuns que marcaram 2019

A poucas horas das 12 badaladas, que aplaudem o fim de 2019 e celebram o inicio de mais um ano, a Engenharia Rádio dá-te a conhecer 12 álbuns que marcaram este ano. Fica com as melhores escolhas da nossa equipa.

 

American Football – LP3

O terceiro álbum dos American Football marca o segundo passo do renascimento da banda de emo e math rock que retém a sua reputação lendária, após o seu retorno em 2015. Agora, abandonam a adorada casa em Urbana, Illinois, que agraciou a capa dos primeiros dois LPs, e em seu lugar vemos um nascer do sol vermelho encoberto de névoa que sinaliza um novo alvorecer.

Os adágios típicos de música emo não foram a lado nenhum, mas são agora ecoados pela voz de um Mike Kinsella envelhecido, que nos dá uma perspetiva amarga não só de amores não correspondidos, mas também dos seus fracassos enquanto marido e pai, na sua vida de dormência desconfortável. A instrumentação da banda continua inventiva como sempre: a faixa inicial estreia com dois minutos seguidos de glockenspiels que lentamente apresentam novos tons e novo território para explorar e apreciar. É um álbum que traz novas esperanças aos românticos céticos e incuráveis, um que não mercemos mas ainda bem que o recebemos.

Guilherme Vale

 

Bon Iver – i,i

O quarto álbum do projeto mais conhecido de Justin Vernon é um smörgåsbord de ideias dos três discos anteriores — construídas e colocadas numa direção que é, talvez, a mais ambiciosa de sempre para a banda. É difícil ouvir este álbum e não sentir uma atmosfera reminiscente, os traços do desespero de “For Emma”, os elementos acústicos cheios de vida de “Bon Iver, Bon Iver”, e os simbolismos misteriosos nos esconderijos emocionais de “22, A Million”. Mas a atitude que transmite parece nova, soa esperançosa, refletiva e pacífica.

Os movimentos ansiosos de tons eletrónicos dançam harmoniosamente com as guitarras, os pianos, os trombones e as cordas, numa colagem repleta de letras a meia distância entre o vago e o conhecido, o esperado da caneta de Justin Vernon. A banda traz, neste eforço, uma nova convicção sedutora que nunca abranda e leva-nos enfeitiçados de um canto a outro, desejos de querer mais quando o álbum termina.

Guilherme Vale

 

Capitão Fausto  – A Invenção do dia claro

A verdadeira história de uma viagem musical, com título de obra de Almada Negreiros, resultou no quarto álbum da banda portuguesa que tem encantado tudo e todos com acordes marcantes e melodias inquietantes.

Como toda a história, começa com a “Certeza” de que cada emoção ficará na “Boa memória” de quem a ouve, sendo que, por “outro lado”, sabe-se que não se pode estar “sempre bem” em países em que se dá uso ao verbo sambar, porque “amor, a nossa vida” é uma verdadeira montanha russa de emoções, e quando “faço as vontades” é para rasgar um sorriso de quem ouve cada nota, e “lentamente” apercebe-se que tudo o que é bom termina depressa chegando, assim, ao “final” deste álbum. Vitória, Vitória acabou-se a história musical.

Maria Silva

 

Chico da Tina- Minho Trapstar

Se, por vezes, se torna difícil de perceber se Chico da Tino é um projeto para ser levado a sério ou meramente satirico, Minho Trapstar trouxe a resposta: O Rapper de Viana do Castelo, sempre acompanhado pela sua concertina dourada, veio para ficar! Chico da Tina começou a crescer no panorama musical através do youtube e o crescente mediatismo valeu-lhe, o primeiro Prémio, MIMO, por votação, a participação nesse mesmo festival, em ambos os lados do Atlântico, o presente álbum e um crescente número de holofotes ao seu trabalho, que não tem desapontado os seus inúmeros seguidores.

Minho Trapstar traz-nos uma aboradagem critica e caricatural da sociedade, com muito humor e regionalismo, ao som do trap e da concertina. Uma antítese de uma das principais imagens do rap, aqui a ostentação é feita com sarrabulho, vinhão e roupa da feira em todas as feiras do Alto Minho, roçando sempre o limite do politicamente correto.

Miguel Pereira

 

FKA twigs – MAGDALENE:

Depois de um álbum de estreia futurista e experimental, FKA twigs lança MAGDALENE, um disco bastante mais simples e pessoal, mantendo-se, ainda assim, como um projeto inovador que desafia o pop atual e combina vários géneros musicais, resultando numa mistura de art-pop, soul, eletrónica e dança contemporânea, que mais uma vez coloca a artista na vanguarda da música atual. Sendo sonoramente impressionante, celestial e enorme, e embora o grande uso de sintetizadores, neste disco, é a voz de “twigs” que sobressai e se torna no instrumento principal, fazendo a dor da artista sentir-se a cada nota, expressada da forma mais pura possível. As influências de Björk e especialmente Kate Bush estão bastante presentes, contudo, mantêm-se o som distinto e único da música, elevando-se este álbum acima de tudo o que a artista já lançou anteriormente. “home with you”, “Cellophane” e “mirrored heart” são alguns dos temas deste álbum que mais sobressaem, fazendo o ouvinte sentir-se privilegiado em poder ouvir o que se nota ser uma artista em completo controlo da sua música.

Tiago Cardoso

 

Ganso – Não Tarda

Diretamente de Lisboa, chega-nos o álbum Não Tarda dos Ganso. Antes da sua publicação, a banda deu-nos a provar os singles “Não Te Aborreças” e “Os Meus Vizinhos” que deixaram as expetativas bem altas para o que poderia vir. Os mesmos, serviram de amostra para a sonoridade que a banda viria a adotar. Em ambos os singles e em comparação com o que a banda havia feito até à data, é notória a presença mais acentuada dos sintetizadores, assim como vozes mais suaves e melódicas. Ao mesmo tempo, as faixas assumem ritmos mais lentos e menos estridentes. Esta metamorfose da banda, a meu ver, resultou muito bem. É possível notar as influências e ideias dos álbuns anteriores Pá Pá Pá e Costela Ofendida, mas que, desta vez, aparecem mais polidas e refinadas. Pessoalmente fiquei aprazivelmente surpreendido com as faixas “Não Tarda” e “Vai Passar”. Ambas num registo mais calmo e melódico em que se conjugam perfeitamente os pianos suaves e as guitarras pouco evasivas. Na faixa “Não Tarda”, a linha de baixo tem um papel fundamental em criar o ambiente onde todos os instrumentos coexistem em sintonia. Para concluir, estou em crer que este álbum foi muito bem conseguido e o risco que a banda correu ao alterar a sua sonoridade teve frutos. Esperamos ansiosamente por mais.

Luís Machado

 

Health – Vol. 4 :: Slaves Of Fear

Quatro anos depois do lançamento de Death Magic, os americanos Health regressam aos discos com Vol. 4 :: Slaves Of Fear. Mantendo o ambiente sonoro característico, bastante denso e preenchido por sintetizadores, este disco, explora e torna-se num ensaio sobre a fragilidade humana e tudo o que nos impede de ser melhores. O disco explora os medos, como é exemplo o título e tema homónimo, as inseguranças, “I was worried before I was born, why would I worry after I’m gone?” e “Life’s gonna break us down time’s running out” em “Black Static”, o desespero, “Death is the message, without meaning” em “The Message”. No fundo Vol. 4:: Slaves Of Fear é a receita perfeita para uma crise existencial de 40 minutos que acaba por se tornar estranhamente viciante. Pessoalmente este disco marcou-me por ser o motivo para eu poder adicionar os Health às minhas bandas preferidas, algo pelo qual eu esperava desde 2012 aquando o lançamento da excelente banda sonora de Max Payne 3 e da premiada “Tears”.

Francisco Ávila

 

JPEGMAFIA – All my heroes are cornballs

Nunca sacrificando a veia experimental que o caracteriza, o artista nascido em Baltimore parece abdicar dos sons primais de músicas como “Real Nega ou “Baby I’m Bleeding  que caracterizaram o seu último álbum de estúdio, Veteran, lançado em Janeiro de 2018, em favor de uma ode aos tempos modernos, tanto na forma como conteúdo: as músicas, no geral, são mais palatáveis e de melhor produção que projetos anteriores, assentes em letras cujos temas são já tópicos recorrentes para Peggy, como violência policial nos Estados Unidos, criptofascismo e a subida da “Alt-Right como movimento político “mainstream“, cultura da internet e anime. Peggy utiliza os estereótipos e o vocabulário característico da “Alt-Right “e subverte-os através da sátira: músicas como “Beta Male Strategiese “Thot Tactics reúnem letras que conseguem ser críticas à apropriação do capital sobre o hip hop, e ao mesmo tempo hinos da “meme culture – ‘Say what you said on twitter right now!’ “-  Perfeitamente embaladas com melodias quase lo-fi. Outras músicas, como “Post-verified lifestyle, recorrem a samples vocais que relembram o álbum anterior e o som já esperado pelo rapper. Também merece ser salientada a música “Free the frail“, pela participação líndissima de Helena Deland.

Concluindo, o sucesso deste álbum surge não por ser uma tentativa de reinvenção, mas por ser uma afirmação da identidade de Peggy como uma personagem culturalmente relevante, politicamente ativa, que encontra o seu espaço no hip hop através de melodias e letras que difundem a sua mensagem, recorrendo à estética que define no século XXI.

Jorge Wolfs

 

Ludovico Einaudi – Seven Days Walking

O compositor e pianista italiano apresentou, em 2019, o seu projeto mais ambicioso, nada menos do que sete álbuns lançados ao longo de sete meses, que culmina no brilhante Seven Days Walking. Depois do seu  registo anterior, Elements, ter sido o primeiro álbum de música clássica a entrar para o Top-15 de vendas do Reino Unido nos últimos vinte anos e da digressão Mundial que o acompanhou, passando também por Portugal, Einaudi passou uma temporada nos Alpes. As caminhadas que fazia regularmente, no inverno, com as pequenas nuances que o mesmo trajeto ia adquirindo, inspiraram-no para o primeiro álbum Day one e a indecisão sobre que versão da música selecionar acabariam por se tornar no presente projeto.

Ouvir Seven Days Walking acaba por ser, precisamente, uma viagem que nos leva a percorrer o mesmo caminho, mas sempre com um olhar diferente. Há músicas que se vão repetindo ao longo dos álbuns, com subtis alterações que acabam por lhes conferir uma identidade muito própria.
Para quem não conhece a obra do compositor é um excelente cartão de visita. Para os fãs, cada vez mais numerosos, do pianista é uma obra que não irá dececionar.

Miguel Pereira

 

Miramar – Miramar

Peixe e Frankie Chavez não são nomes desconhecidos do panorama musical português, o primeiro, pelo seu trabalho em bandas como Ornatos Violeta ou Pluto e, Frankie Chavez, como um dos vais virtuosos guitarristas da sua geração, trazem-nos agora o seu primeiro álbum em conjunto, o homónimo Miramar. Tudo começa quando, dois anos depois de se terem cruzado num concerto dos They’re Heading West, Peixe desafia Frankie Chavez para o acompanhar no festival “Guitarras ao Alto”. Dos três dias em que se juntaram, em Miramar, para preparar esse concerto, surgiria a espinha dorsal deste primeiro álbum e uma cumplicidade ímpar.

Miramar é um álbum intimista e contemplativo, em que os dois músicos se complementam na perfeição, com uma naturalidade e fluídez desarmantes, sem virtuosismos excessivos. A sua música evoca-nos aqueles dias pachorrentos e descontraídos de verão, com amigos, praia, cerveja e uma guitarra.

Miguel Pereira

 

O Terno – <atrás/além>

A magia do trio, composto por Guilherme D’Almeida, Tim Bernardes e Gabriel Basile, é traduzida no seu quarto álbum, um verdadeiro passaporte para uma reflexão sobre o mundo no qual deixamos a nossa pegada.

Antes de clicar no “play” musical, a capa do álbum indica precisamente a sua essência. O facto das sílabas estarem separadas, representa “o” indivíduo que tem a sede de “ter” algo “no” presente. O nome <atrás/ além> induz este movimento de rebobinar a cassete da vida para o passado, e depois ver além com cheiro a futuro. Apesar deste álbum se encontrar recheado de antíteses musicais como “atrás/além”, “nada/tudo”, “profundo/superficial”, este também abraça o sinónimo de obra prima.

Há reticências para todos, esperando que um dia mudem para algum ponto final na certeza de que nada é impossível se houver sempre um “o bilhete” para a felicidade.

Maria Silva

 

Richard Dawson – 2020

No seu sexto projeto a solo o músico inglês dá um salto do Folk pelo qual tinha ficado conhecido nos seus álbuns, para um Indie Rock mais experimental, sem nunca deixar de parte o seu falsete inconfundível.

Neste álbum são abordados maioritariamente temas referentes aos problemas da sociedade atual, passado também por algumas reflexões mais pessoais. Desde a pressão excessiva sentida no trabalho à descoberta de infidelidade por parte da mulher, passando também por formas de como cooperar com tudo isso, na faixa “Jogging”. Dawson é capaz de expor as suas visões do mundo de uma forma extremamente cativante para quem se interessar por ouvir o que ele tem a dizer.

À parte das suas letras, sonoramente, também é um dos melhores trabalhos do artista, com melodias memoráveis produzidas por um leque diversificado de instrumentos, desde as clássicas guitarras à introdução de bateria na percussão, e até uns toques mágicos de sintetizadores. Tudo isto com um excelente trabalho de produção em cima.

Dinis Moreira

 

Edição por: Beatriz Araújo

Foto: Marco Teixeira

 

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