Vodafone Paredes de Coura – Dia 3: encontro Spiritualized com Father John Misty

O terceiro dia do Festival Vodafone Paredes de Coura ficou marcado pelas atuações magníficas de Spiritualized e Father John Misty.

Na segunda e última sessão do Vodafone Vozes da Escrita estiveram presentes Márcia e Valter Hugo Mãe, ao início da tarde no Palco Jazz na Relva. Apesar do natural barulho dos festivaleiros a cozinhar e a conviver nas margens do rio Coura, a sessão teve momentos onde se podia quase ouvir o silêncio ao som das melodias da cantora compositora Márcia. Trata-se de um dos maiores talentos da composição nacional da atualidade, destacando-se nos últimos anos com trabalhos intimistas. Este sessão de poesia foi partilhada por dois grande amigos, tendo Valter Hugo proferido grandes elogios à cantora, ele que é considerado um dos mais destacados escritores portugueses. Foi um momento acolhedor para começar o dia nas margens do rio. A tarde seguiu com as atuações de The Rite of Trio e Madrepaz.

Os concertos no recinto começaram pelas 17h45, como habitual, tendo os Derby Motoreta’s Burrito Kachimba tido o papel de trazer os festivaleiros pela rampa acima para iniciar a jornada musical do dia.  Provenientes de Sevilha, o conjunto de músicos facilmente conquistou o público espanhol presente em Paredes de Coura, tendo até o vocalista saltado para a plateia para abraçar os presentes. Sendo comparados a Pond e King Gizzard, despertaram a curiosidade dos amantes de rock psicadélico, com algumas notas de stoner.

Num final de tarde com visivelmente menor movimentação no recinto, a missão de abrir o palco Vodafone no terceiro dia de festival foi de First Breath After Coma. Depois da nomeação para melhor disco europeu com “Drifter” e de cinco digressões europeias nos últimos dois anos, a banda de Leiria regressa em 2019 com o álbum “NU”, o seu terceiro disco de originais. O concerto decorreu com algumas filas da frente preenchidas, provavelmente já à espera dos grandes nomes da noite, e com muitos sentados em toalhas no relvado do anfiteatro a aproveitar o sol de fim de tarde e as melodias deste grupo.

 

Balthazar foi uma das agradáveis surpresas do cartaz desta edição. Após uma interrupção de quatro anos, o grupo belga regressou aos discos com “Fever”, em janeiro de 2019. O concerto fica marcado por uma boa receção, com uma adesão em crescendo do público ao longo de toda a sua duração, com notas de eletro pop dançáveis e vibrantes. Temas como “Fever” e “Changes” mostraram parte deste mais recente trabalho que marca o regresso do indie pop/rock que os caracteriza.

Assim como no concerto imediatamente anterior, houve nesta atuação espaço para que um dos membros da banda, neste caso Maarten Devoldere, descesse do palco, cantando parte de um tema rodeado dos seus fãs. Dado ser ainda cedo, perto das 19h, pode-se considerar que houve uma quantidade de publico considerável a vê-los. Merecido, e termina com uma visível felicidade de todos os membros do grupo.

©Hugo Lima

Jonathan Wilson trata-se de um músico e produtor norte-americano, nascido em 1974 e em atividade desde 1995. Conta na sua carreira com uma vasta experiência, tendo já acompanhado tours como a de Roger Waters. Pela primeira vez em Paredes de Coura, trouxe-nos o post rock do seu mais recente álbum, “Rare Birds”, o seu terceiro álbum a solo, que conta com a colaboração do cabeça de cartaz da noite, Father John Misty. Foi muito bem recebido pelo público que aproveitou o concerto tranquilo como pedem estes finais de tarde na praia fluvial do Taboão.

O grupo surpreendente Black Midi entra em palco pelas 20h30 no palco Vodafone.FM e, em segundos, provoca uma explosão de moche em grandes círculos cuidadosamente preparados pelos fãs. Com o seu primeiro álbum “Schlagenheim” de noise/math rock na bagagem, e uma atitude calma e descontraída em palco, algo oposta à dos muitos que os esperavam e dos seus ritmos frenéticos, o público reagiu, talvez demasiado, de forma elétrica, provocando forçosamente moches, mesmo em temas que mal tinham começado. A festa foi maior que o concerto, embora muita energia tenha sido descarregada em 60 minutos.

Viagem celestial pelo Habitat Natural da Música

Jason Pierce formou Spiritualized depois do fim de Spaceman 3, contando já com quase 30 anos de carreira. Reis do space rock shoegaze, lançaram em setembro deste ano o muito aguardado oitavo álbum de estúdio “And Nothing Hurt”. O arranque do concerto foi excecional, recorrendo ao tema ‘Come Together’ do lendário álbum “Ladies and Gentlemen, We Are Floating In Space”, de 1997. A viagem pelo espaço continuou com temas antigos, como “Shine a Light” e “Soul on Fire”, seguindo de um modo alucinante com uma sucessão de músicas do novo álbum, como “A Perfect Miracle” e “I’m Your Man”, que tornou o concerto um espetáculo hipnotizante. Apesar da pouca interação com o público, este foi um dos poucos concertos em que consideramos que essa interação não seria necessária, dada a envolvência do momento e a entrega notável por parte de todos.

Apesar da multidão desejar que esta viagem celestial continuasse, vendo-se alguns a chorar e muitos a serem totalmente envolvidos pela música, o final aproximou-se e com ele houve ainda espaço para um momento que ficará durante muito tempo na memória dos presentes, uma versão de “Oh! Happy Day”, que facilmente pôs todo o anfiteatro a cantar e a celebrar. Tal como Parcels para The National, Spiritualized conseguiu fazer a abertura perfeita para o cabeça de cartaz da noite. Mais um concerto memorável em Coura.

©Hugo Lima

Um encontro religioso com a música

Josh Tillman vestiu-se de Father John Misty para tentar encantar Paredes de Coura com os seus temas profundos e algo depressivos. Não era fácil suceder ao fenómeno que tinha acabado de acontecer com Spiritualized em palco. Não tornou mais simples a sucessão o facto de a mistura de som não parecer ser a ideal, escondendo um pouco a voz do ex-baterista de Fleet Foxes, ainda na onda do folk rock, que tanta importância dá às letras das suas composições.

Ainda assim, foi um momento de grande comunhão nesta sua segunda visita ao festival, com “I Love You, Honeybear” e “Pure Comedy” em destaque, lançando verdadeiras bombas emocionais que contam histórias de um desgosto amoroso, expressas de forma clara um pouco por todo o aclamado álbum “God’s Favorite Customer”. Sem direito a encore mas com um público satisfeito de o ver regressar, encerrando o Palco Vodafone deste dia, após uma série de concertos notoriamente mais calmos que em outros dias.

©Hugo Lima

O último dia do festival tem como principais nomes Patti Smith, Freddie Gibbs & Madlib e Suede. Podem consultar as reportagens do 1º e 2º dias para acompanhar tudo o que se passa em Paredes de Coura.

Rita Moura, Carlos Silva

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