Vodafone Paredes de Coura – Dia 1: Parcels vence no regresso dos The National

Está oficialmente aberta a 27ª edição do Vodafone Paredes de Coura. Após uma excelente primeira noite de concertos, marcada por atuações bastante diferentes por parte de Parcels e The National, que levam a maior parte a discutir qual dos concertos leva o galardão da noite, o arranque do festival dificilmente poderia ser melhor.

Mergulhos no rio, toalhas a encher todo o relvado, muita cerveja e música por todo o lado foi o que mais se conseguiu ver na primeira tarde de festival. Numa edição com os passes gerais já esgotados há algum tempo, houve espaço para uma ação da Vodafone que permitiu aos festivaleiros mais rápidos ganharem um dos 40 passes que havia para oferecer na zona de campismo. Entre lanternas e tote bags, os passes gerais foram certamente a oferta que mais surpresa provocou, permitindo diminuir o número de pessoas com cartazes que desesperadamente procuravam passes gerais.

©Hugo Lima, www.fb.me/hugolimaphotography

Foi na primeira tarde do festival, ainda sem recurso ao palco secundário Vodafone.FM, que Bed Legs estrearam o mítico recinto do Vodafone Paredes de Coura. A banda bracarense, composta por cinco músicos, vem de um ano de 2018 marcado pelo lançamento do seu álbum homónimo, marcada pelo principal single “Spillin’ Blood”. Com o público a compôr-se em torno do palco principal, provavelmente provenientes do Palco Jazz na Relva, onde Mazarin e Plastic People animaram as margens do rio Coura, foi um agradável início de festival com um blues rock intenso, mostrando o porquê de serem considerados uns dos bons valores da música nacional.

Crushing” foi o álbum mais recente (2019) que Julia Jacklin veio a Paredes de Coura. A australiana, com dois álbuns na bagagem, repletos de indie pop com fortes notas de country, conseguiu paralisar emocionalmente o público, expressando-se sem filtros e deixando todas as suas questões amorosas expostas em palco, num final de tarde acolhedor em que o recinto já estava mais completo do que o habitual. “Who are you all?” perguntou a artista, que desconhecia o público português e ficou muito interessada em conhecê-lo. O concerto ficou marcado por um registo calmo e triste, com enfâse nos temas “Don’t know how to keep loving you” e “Comfort”.

Com o início da noite chegaram Boogarins , quarteto proveniente da cidade de Goiânia, que vieram apresentar o seu mais recente álbum, de maio de 2019, “Sombrou Dúvida”. O grupo foi muito bem recebido pelo público que se encontrava no recinto, apesar das movimentações da hora do jantar, e não desiludiu ao longo da hora de concerto, a provar que merecem já atuar da parte da noite.

O momento alto da noite

A surpresa chegou por volta das 23h15, quando Parcels subiram ao palco Vodafone. A banda australiana de electropop veio de Berlim, onde estão agora sediados, para proporcionar um dos que certamente será um dos momentos mais marcantes desta edição do Vodafone Paredes de Coura.

Com o recinto praticamente a abarrotar, Parcels antecederam o concerto mais aguardado da noite. Notoriamente emocionados e surpreedidos com o número de pessoas a assistir ao concerto, proporcionaram um momento cheio de energia e emoção num concerto que se pode considerar uma feliz sucessão ao estilo dançável de Jungle, em 2018. “Isn’t this the most amazing experience?” foi uma das frases proclamadas por um dos elementos da banda, demonstrado que não estavam de todo a espera desta receção.

O habitat natural da música vibrou e emocionou-se ao som de temas como “Lightenup” e “Tieduprightnow”, do mais recente álbum homónimo, que proporcionaram um misto de alegria e emoção. O concerto teve ainda espaço para um momento engraçado, quando o teclista Louie Swain surge no palco com um rádio vintage e sintoniza o tema “Encosta-te a mim”, de Jorge Palma, deixando-o visivelmente confuso com a adesão por parte do público à música que surgiu.

©Hugo Lima, www.fb.me/hugolimaphotography

O grupo partilhou hoje nas redes sociais várias fotografias do concerto de ontem, onde se podem ler descrições como “There are no words to describe what happened last night. A moment that will go down in Parcels history” ou “Portugal. Wow. Last night was one of the most beautiful sixty minutes that we’ve ever shared.”. Foi também desta forma, com palavras emociadas e vénias, que terminou a jornada de Parcels no palco Vodafone.

 Um final tão aguardado

Tendo atuado pela primeira vez no palco do Vodafone Paredes de Coura em 2005, The National regressaram este ano a encabeçar o cartaz deste dia 14, conseguindo esgotar os bilhetes diários e formar a front line no palco principal logo na abertura do recinto.

Num concerto com uma duração superior há que estamos habituados nos festivais, The National tocaram cerca de 1 hora e 45 minutos, tendo a difícil tarefa de continuar a noite depois do espetáculo de Parcels. Conseguiram convencer o público a partir da música “Don’t Swallow the Cap”, tendo canções como “I need my girl” e “Mr. November” sido também muito bem recebidas pelo público, que as cantaram como se não houvesse amanhã.

Em momentos mais calmos e repletos de emoção, ecoaram temas como “Light Years” e “About Today”, que tornaram mágico o ambiente no anfiteatro natural da música, repleto de pessoas até quase não haver espaço para mais. O vocalista da banda, Matt Berninger, enfatizou a beleza do anfiteatro natural da música, demonstrando o seu gosto pelas luzes nas árvores, que tornam tudo muito mais acolhedor.

Apesar de provavelmente não levar o prémio de melhor concerto da noite, os The National deram um concerto espetacular, não desiludindo o público português que tanto os adora e os segue para todo o lado. Um regresso merecido.

©Hugo Lima, www.fb.me/hugolimaphotography

Se seria de esperar que pelas 3h da manhã o recinto já estivesse mais vazio, foi o oposto que aconteceu, com o espaço do palco secundário totalmente preenchido e muitas pessoas a circular pelo recinto.

Apesar da enorme enchente de pessoas a ir embora depois de The National, o aguardado concerto de KOKOKO! levou os queriam ainda continuar a noite diretamente para o palco secundário. Associados ao espírito de protesto em Kinshasa, num estilo talvez ainda por definir, explosivos e com instrumentos construídos pela própria banda, conseguiram proporcionar 1 hora de diversão. O fecho dos after hours foi feito pelo mais que repetente DJ Nuno Lopes, com uma enchente de festivaleiros já habituados à diversão que se adivinhava.

O festival continua hoje, para o segundo dia em que os bilhetes diários se encontram também esgotados. Vão atuar no palco Vodafone nomes como Car Seat Headrest, New Order e Capitão Fausto. Sigam tudo na Engenharia Rádio!

Rita Moura, Carlos Silva

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