Crítica; Batman v Superman: Dawn of Justice (NO SPOILERS!)

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Depois de 2 anos de controvérsia, rumores e especulações, o seguimento para o divisivo filme ”Man of Steel” estreou nos cinemas com o título de Batman v Superman: Dawn of Justice.

O filme abre com uma versão abreviada da origem do herói Batman (interpretado por Ben Affleck), resultante de um senho deste, misturado com alguma simbologia messiânica. O que se segue a isto é uma sequência na qual vemos o ponto de vista de Bruce Wayne/Batman durante a Batalha de Metropolis na qual vê milhares de pessoas, incluindo seus conhecidos, a morrerem insensivelmente nas mãos de gente de poder tão incompreensível e incontrolável. Depois disto, temos o início do conflito de Superman (interpretado por Henry Cavill) na qual tenta lidar com um mudo que está dividido em interpretá-lo como o próximo salvador ou o derradeiro destruidor da humanidade e de que forma é que ele deve agir, que regulações é que devem ser impostas nele e se é que a existência dele sequer é necessária num mundo de tal forma volátil e pouco preparado para lidar com tal poder.

Concomitantemente com isto, temos o seu principal vilão Lex Luthor (interpretado por Jesse Eisenberg) e os seus esforços para descreditar e destruir a imagem religiosa que se ergueu à volta do Homem de Aço, que incluem experimentação com tecnologia Kriptoniana e manipulação de várias personagens chaves de forma a cumprir os seus objectivos. Batman está interessado nestes esquemas maquiavélicos de Luthor, mais de forma a poder obter informação e maneira de poder defrontar-se e eliminar o Super-Homem, evitar que no futuro ocorra outra catástrofe como a que testemunhou e assegurar o futuro da humanidade.

Estes esforços todos culminam num confronto final na qual Batman e Super-Homem irão entrar num duelo, estilo Dark Knight Returns, na qual ou um sairá vivo ou juntar-se-ão de forma a criar uma frente unida contra os desafios titânicos que se encontram no horizonte.

Qualquer pessoa que procura por críticas ou opiniões acerca deste filme só os procura por uma única razão: se é de tal forma catastroficamente mau que irá matar o futuro da DCEU. Eu, como o escritor desta crítica e fã ávido da DC, vou expor claramente as minhas circunstâncias de forma a dar contexto ao que vou dizer a seguir. Eu adorei o filme Man of Steel, acho que esta nova visão para o universo cinemático DC é algo de interessante e diferente que vale a pena explorar, não tive qualquer problema com a visão do Super-Homem (que eu acho ser uma personagem mais tridimensional e interessante do que prévias interpretações e relevante para os tempos de hoje) e a destruição excessiva de Metropolis não me chateou porque podia ser um momento relevante para o futuro desenvolvimento da personagem em possíveis sequelas.

Também como ponto final, eu não tive um problema com a morte de Zod, porque o filme dá-se ao trabalho de expor claramente que estavam numa posição difícil e que era a vida de um genocída contra as vidas de uma família inocente. Será que talvez seria melhor ter tido outro desfecho? Talvez, mas o filme estabelece que este Super-Homem é inexperiente e que não estava preparado para lidar com uma equipa de militares com os mesmos poderes que ele, além de exemplificar um dilema moral e ético comum com um dos grandes ícons destas duas áreas e realmente confrontar essa decisão em vez de puxar por um Deus Ex Machina que resolve tudo da forma mais limpa possível.

Não, o meu problema com o homem de aço é mais as cores mudas, a estrutura um bocado disjunta do filme, as sequências de acção de desesperadamente precisam de uma boa tesourada e o resto do final que arruína o tom que a decisão difícil estabeleceu em antemão. E antes que me esqueça, não eu não acho que os Kents estão mal representados ou que ensinaram mal o Clark, que retroactivamente explica porque ele é, supostamente, um homicida psicótico, pois, mais uma vez, eles são representados como pessoas comuns a tentar ensinar valores positivos e decência a alguém cujas acções e existência os distorce e abre uma série de complicações que não se aplicam a alguém em comum. O mais notável exemplo disto ocorre quando ele salvou um autocarro e de repente já existe gente que o quer torna-lo no próximo messias, daí a infame troca de diálogo entre pai e filho que enfurece tanta gente. E uma situação difícil e o Pai Kent pura e simplesmente não sabe que resposta dar ao filho de forma a protege-lo de um mundo que o irá adorar e odiá-lo ao mesmo tempo com igual paixão se souber quem ele realmente é e dá-lo o ímpeto para utilizar os poderes para fazer o melhor pela humanidade.

Dito isto tudo, não será surpresa para ninguém que eu gosto deste filme, gostei tanto que saí do cinema com o mesmo sorriso nos lábios de quando vi pela primeira vez o crossover animado entre o Batman e o Super-Homem à mais de uma década atrás. Porém, seria falso de mim não admitir que este filme tem alguns problemas sérios que o impedem de ser um filme realmente incrível.

Vamos tomar isto por partes, começando com o positivo. De um ponto de vista técnico, este filme é lindíssimo e a acção é espetacular (duas coisas garantidas com o realizador deste filme), com especial menção para o sound design e a banda sonora que também estão excelentes e cuja combinação contribui para criar uma atmosfera distinta e épica para o filme. Com tal, cada vez que o Batman entra em acção, ou quando o duelo começa, cada segundo é um completo nirvana e um sonho tornado real para qualquer pessoa que conhece e cresceu com estas personagens.

A outra secção que este filme brilha é nas suas personagens. Quanto às personagens que regressam do filme anterior, ainda está tudo mais que bem, com particular menção para Henry Cavil como o titular Super-Homem, na qual continua a provar que nasceu para este papel, e que em tudo incorpora a personagem, tanto em visual como no performance, mostrando uma pessoa que está confusa acerca do seu lugar no mundo ao mesmo tempo que genuinamente procura ajudar as pessoas e demonstrar que só quer o melhor para o seu mundo adoptivo. Concordo que não será tão puro como o lendário performance de Christopher Reeve, mas acredito que são dois performances para duas alturas diferentes de cinema e sociedade.

Da nova adição ao cast de personagens Super-Homem, temos o seu arqui-vilão, o empresário/cientista Lex Luthor (especificamente Alexander Luthor, o filho do Lex que deu o nome à companhia Lex Corp). Este, como muito coisa no filme, irá seu um ponto de contestação, porque a maioria das pessoas ainda quer a versão Breaking Bad desta personagem, mas a meu ver, gosto imenso desta interpretação, pois inclina-se mais na veia do cientista louco maquiavélico do que necessariamente o empresário implacável. É verdade que o performance tem uma data de tiques, mas a ideia de um Luthor excêntrico não me é nada desagradável, e temos uma boa percepção da motivação por detrás do seu ódio pelo Super-Homem que o vê como falso messias (que muito provavelmente resulta dos anos de abuso que sofreu às mãos do pai e porque não consegue conciliar a ideia de poder supremo que não resulte de conhecimento superior). Ao todo, eu gosto desta nova interpretação de Lex, que, embora pareça ser alguém de inofensivo e excêntrico, esconde uma mente profundamente perturbada e psicótica que irá fazer de tudo para obter o que quer.

Passado para as mais recentes adições ao Universo DC, temos o titular Batman, cuja escolha de actor pôs toda a gente em modo berserk (apesar de terem escolhido alguém que tem ganho e sido nomeado para vários Oscars em várias categorias, mas pelos vistos ‘‘Gigli’’ é indelével). Devo dizer que, até chegar o dia que arranjem outro actor, este deve ser a mais fiel adaptação do Cavaleiro das Trevas que alguma vez foi posto no ecrã, reforçando de tudo o que os outros Batmans já puseram nos ecrãs e adicionando mais que nunca chegou ao grande ecrã. Ben Affleck dá o melhor performance alguma vez dado para um Batman, dividindo belissimamente e com o mínimo de esforço as diferentes facetas da dicotomia Bruce Wayne/Batman.

Para além disso, temos também depois de quase 30 anos uma adaptação do Batman de Frank Miller tal como ele é apresentado em Dark Knight Returns, em todas as formas imagináveis, integrando diálogo da BD e recriando painéis e capas no ecrã. Pela primeira vez na sua longa carreira no cinema, uma pessoa percebe porque é que os criminosos em Gotham teriam medo de Batman, pois existem sequências neste filme que o fazem parecer uma criatura sobrenatural e cada vez que é tempo de ele mostrar as suas capacidades marciais, é retirado directamente dos jogos Arkham com uma direção remanescente de filmes de acção como The Raid.

O único problema que alguém poderá ter com este Batman será a intensidade e o nível de violência ao qual este Batman recorre para lidar com os seus adversários, chegando até mesmo a utilizar força letal de forma a tratar dos seus oponentes. Isto muito provavelmente será algo de extremamente polarizante, mas acho que não me afecta muito porque, mais uma vez, este é o Batman de Frank Miller que é notório por ser incrivelmente selvagem e violento até ao ponto de ser um sadista e tomar prazer na violência extrema que inflige nos criminosos. Felizmente não tomam muito essa direcção com este Batman, recorrendo em vez ao facto que ele já é uma cínico com muitos anos de experiência por detrás dele que o tornaram mais duro e cruel depois da forma como a morte de Robin e a destruição de Metropolis o afectaram emocionalmente, daí estabelecendo que este é um Batman vulnerável que está num período da sua vida que é mais guiado pelas suas emoções e paixões do que pela sua lógica e razão.

Como última nota, gostaria de referir que estava redondamente enganado acerca da Gal Gadot com a Mulher Maravilha. No pouco que vimos dela, devo dizer que ele encarou a personagem e o papel com a confiança e ar régio digno de Princesa da Amazonas e agora estou mesmo confiante no filme centrado nela.

Quanto aos aspectos mais negativos do filme, devo dizer que este filme necessita urgentemente de ser reeditado e ligeiramente reestruturado, pois existem várias cenas ao decorrer deste filme que estão pobremente interlaçadas e que acabam por afectar imenso a história pois existem várias partes deste filme que ou parecem estar incompletas ou parecem estar a mais e que não contribuem nada de relevante para a história que está a ser contada. Este filme podia ser facilmente cortado em cerca de 30 minutos e o filme tornar-se-ia mais forte como resultado, pois grande parte do conteúdo aqui exposto mais cedo fazia sentido num Director’s Cut (que supostamente vai ter 3 horas e de referir que o resumo acima é uma versão extremamente abreviada dos acontecimentos, que irão ser amplamente explorados no spoilercast com os meus colegas, pois este é um filme que chega a ter qualquer coisa como duas horas e meia de filme, uma característica bastante intimidora para um filme deste género).

Também algo que que chateia um bocado acerca da história deste filme deve-se ao facto que este filme expõe uma data de ideias e temas incrivelmente interessantes acerca das personagens principais, especialmente acerca do Super-Homem (de natureza ética e religiosa) que não são devidamente explorados e que seriam excelentes para a criação de um filme focalizado no Super-Homem que seria capaz de, retroactivamente, tornar Man of Steel ainda mais forte e sólido a longo termo. Isto é um problema que talvez pode ser explorado numa sequela, mas duvido seriamente devido ao suposto slate de filmes DC que irá estrear para os próximos 5 anos (se calhar podem cancelar o Shazam em favor de um Man of Steel 2).

Para finalizar, gostaria de dizer que, embora adorasse o momento final na qual vemos o reunir da Trindade DC e as acções do Super-Homem no combate de início ao fim, tenho que admitir que a sua inclusão foi um bocado desnecessária e a sua conclusão um bocado fútil e vazia, que acaba por finalizar o filme de uma forma muito mista pois enquanto que acaba de uma forma um bocado estúpida, também abre o universo de uma forma excelente que me tornou excitado para ver mais deste universo e as surpresas que tem para oferecer no futuro.

Em suma, devo dizer que, embora este filme tenha os seus problemas, alguns dele um bocado graves, ainda tenho que dizer que gostei muito do filme e cumpriu o seu objectivo de abrir e expandir a dimensão do Universo DC de forma a estabelecer o cenário para futuros filmes neste mundo. O mais provável é que este filme, tal como previsto, será incrivelmente polarizante e, embora seja mais que provável que faça um bom lucro, especialmente no estrangeiro, irá ser marcado na posterioridade com um filme terrível dentro do domínio Pop Culture juntamente com as Prequelas Star Wars e os Batman do Shumacker. A única maneira que este franchise poderá entrar nas boas graças do público em geral é se matarem este universo já e começarem de novo com um tom radicalmete diferente, mais semelhante ao da MCU, ou se livrarem da visão presente deste universo e começarem já a transitar para um tom mais leve e comédico.

Muito sinceramente, da forma como as coisas estão agora, o mais fácil será matar este universo já porque a maioria do público, especialmente o mais vocal, não aceitará outra visão de super-heróis que não o da Marvel e agora que o cinema americano está a ficar farto de Super-Heróis, com uma boa parte dos seus cronistas e intelectuais a equipar a sua prevalência a uma doença que está a destruir a sua cultura, daqui a nada vão transitar para algo de novo, muito provavelmente adaptações de videojogos, e voltarão a ser filmes ocasionais no landscape do cinema eternamente lembrados como a fonte de um cancro cultural que dominou uma particular década de cinema.

Contra mim falo porque eu adoro a DC e quero ver mais de filmes de super-heróis, especificamente a Liga da Justiça, mas da forma como os ventos voam, tudo dependerá do sucesso do próximo Capitão América e Warcraft, mas da forma como o corpo de críticos e os fãs têm andado a reagir a este filmes, tenho que admitir que o futuro não está brilhante para este franchise conjunto e talvez a Warner Bros encontrará mais sucesso em terreno não explorado e desistir desta tentativa que tem posto o mundo electrónico e de Pop Culture em chamas da maneira mais negativa. Em qualquer outra situação diria que isto é uma coisa positiva, pois acho que, através de competição e produtos diferentes num mesmo mercado, isto cria algo de saudável e necessário de forma a explorar coisas novas e abrir a possibilidade de expandir os temas e ideias que este filmes e personagens podem explorar, além de quebrar barreiras nas concepções que nós temos acerca destes filme.

Mas a verdade da coisa é que um filme assim tão polarizante, que incita tanta paixão de ambos os lados da discussão e desafia o público com interpretações diferentes de personagens bem conhecidas, não pode sobreviver no presente clima de Blockbusters e franchises, pelo que poderá resultar num ambiente de estagnação e filme repetidos e seguros dentro deste género. Ao fim do dia, se alguém não erra hoje, não existe a possibilidade de o corrigir e fazer melhor amanhã.

Verdito

3.75/5

Escrito por Tiago Garcia

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