Um Belo Dia Para Um Filme; Uma Crítica de Mad Max: Fury Road

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Este filme é realizado por George Miller, é produzido por George Miller, Doug Mitchell e P.J. Voeten, é escrito por George Miller, Brendan McCarthy e Nico Lathouris, é distribuído pela Warner Bros. Pictures e estreou a 14 de Maio de 2015.

Todos nós já olhamos para a capa de um álbum de heavy metal e dissemos para nós próprios: Não seria incrível ver isto na realidade? Aparentemente o médico virado realizador George Miller fez essa pergunta a si próprio na década de 70, a deu vida à sua resposta, rodou o indicador para o 11 e tornou o deserto da Namíbia num ferro-velho verdadeiramente pós-apocalíptico.

O último filme da série Mad Max, Beyond Thunderdome, estreou no grande ecrã em 1985, à exactamente 30 anos atrás, e assim o pai dos filmes de acção pós-apocalípticos entrou num longo período de sonolência. Porém, o criador do franchise ainda tinha mais uma aventura australiana a gestacionar na mente e após um caminho longo e turbulento, nasceu o filme Mad Max: Fury Road, um filme de tal forma emocionante, colorido, psicopata e inacreditável que nunca mais na vida uma pessoa poderá ver violência automobilística no cinema sem pensar ‘‘Fury Road fê-lo melhor’’.

Ainda à duas semanas atrás vimos os Vingadores, que teve uma excelente coreografia de combate e até mesmo uma cidade a voar, e achamos que esse seria o pináculo de acção deste ano, mas o Tio George mostrou-nos a luz e criou uma obra-prima de tal forma vibrante e imparável que muito provavelmente irá servir de marco e exemplo para todos os filmes deste género para os anos vindouros.

Este filme, o quarto dentro da série Mad Max, conta mais uma história do titular personagem na qual irá tentar escapar a custódia de um líder déspota e o seu exército de fanáticos à medida que acompanha a missão de Imperator Furiosa, interpretada por Charlize Theron, de forma a procurar redenção e liberdade para um grupo de mulheres que desejam liberdade e uma vida livre de um ditador sádico.

Só a partir deste pequeno sinopse, uma pessoa percebe que este filme dá grande atenção à parte feminina do elenco, perfeitamente exemplificada por Furiosa, uma das melhores personagens a nascer deste franchise desde o próprio Max (desculpa Tina Turner). Com o seu performance, Theron interpreta uma personagem que além de ser uma mulher inteligente, uma guerreira implacável e uma presença formidável equiparável à titular personagem, demonstra também uma vulnerabilidade subtil e um desejo de proteger os outros e cuidar daqueles na sua custódia que é remanescente do balanço de sobrevivente testada e figura materna da Ellen Ripley em ‘‘Aliens’’. As restantes personagens femininas também são bem caracterizadas, funcionando melhor dentro da dinâmica de grupo na qual são introduzidas, com um desejo comum, falhas variadas e personalidades distintas.

Do lado mais masculino, Tom Hardy (que todos nós sabemos ser um actor de alto calibre) preenche perfeitamente o papel de Max, anteriormente interpretado por Mel Gibson, o papel que iniciou a sua carreira como actor, balançando bem o exterior frio e imponente com o interior emocional e vulnerável, característico da personagem. Também de destacar é o performance de Nicholas Hoult como um dos War Boys do exército do antagonista Immortan Joe, na qual ele interpreta perfeitamente o arco e história pertencente a esta personagem. Não irei dizer mais, mas digamos que alguns dos guerreiros psicopatas do Outback Australiano pós-apocalíptico também têm personalidade, alma e desejos.

E é com isto que chego a uma das melhores partes do filme: o Vilão. Estes dias, o que passa por um vilão muitas vezes é um tipo genérico com cara de mau e atitude de bruto juntamente com os outros 5,000 rufias do gang de maus-da-fita nº295837 ou um covarde sofisticado bem-vestido que controla lacaios a partir das sombras a tentar fazer o que Moriarty fez tão bem há dois séculos atrás e a falhar miseravelmente.

Os grandes vilões do cinema são personagens consideradas imponentes, intocáveis, com um ar que anda algures na vacinidade do mítico, e estas características descrevem perfeitamente o antagonista Immortan Joe. Este personagem é estabelecido como o líder supremo da comunidade que captura Max no início do filme e só da maneira que ele é introduzido podemos ver que este é uma versão grotesca e mutante de uma vilão como o Imperador Ming na qual tem toda uma imagem divina entre os seus vassalos, uma pompa e circunstância remanescente de um Imperador Romano e um aspecto que só poderia adver do resultado da copulação entre Darth Vader e Skeletor (facto: o actor que interpreta Joe é o mesmo actor que interpreta Toe Cutter no primeiro Mad Max, também o principal antagonista desse filme).

Juntamente com uma religião baseada num culto de personalidade dedicada à sua pessoa, à volta dele ele organiza uma corte igualmente demente e perversa, um exército de jovens a morrer de cancro e radioactividade, com uma frota de carros armados arrancados de um jogo de ‘‘Twisted Metal’’ e, voltando à metáfora da capa de um álbum de heavy metal, a versão do ”little drummer boy” que marca o ritmo para o passo do exército nesta ”retinue” doente é um cego que monta um carro feito de amplificadores e com três pares de músicos com tambores gigantes à medida que toca uma guitarra/baixo eléctrico que também serve de lança-chamas.

E a partir daí chegamos à verdadeira estrela deste filme: as cenas de acção. Além do facto de que o próprio realizador confirmou que o filme é 90% efeitos práticos, foram construídos e destruídos dezenas de carros de vários designs, tamanhos e modelos diferentes, contrataram-se dúzias de acrobatas profissionais, entre eles participantes do Cirque du Solei e atletas olímpicos e Miller preocupou-se em dar o seu melhor de forma a que o trabalho de câmara e edição estivessem ao mais alto nível de forma a tornar toda esta destruição numa belíssima tapeçaria de alto caos, que só poderia acontecer nos mais sonhos mais loucos de um entusiasta de cinema. Juntamente com isso também temos uma atenção às cores que o distingue tão ressonantemente de todos os outros filmes da sua categoria, optando por utilizar cores vibrantes e chamativas em vez de as silenciar, recorrendo muito ao laranja da areia, ao vermelho das explosões, ao castanho da ferrugem e optando por realçar a noite através da predominância do azul. Adicionando a isto um excelente soundtrack do Holandês Tom Holkenborg, mais conhecido por Junkie XL, e temos, possivelmente, um dos melhores filmes de acção alguma vez feitos.

Em termos de negativos acerca deste filme, é preciso escavar um bocado, mas algumas personagens mais para a frente do filme sofrem de falta de caracterização e são um bocado dispendiosas da maneira que decorre a narrativa, e talvez seria melhor ter escrito mais qualquer coisa em termos de diálogo para a personagem de Max de forma a tornar a personagem um bocadinho menos estática.

Eu poderia continuar e falar mais acerca das coisas incríveis que ocorrem neste filme, mas, em suma, só gostaria de terminar dizendo que isto é um exemplo de um filme de acção que honra o legado do Guerreiro da Estrada, que desafia o status quo através da predominância de efeitos práticos e planeados em vez efeitos a computador, que celebra o seu design visual e não tem medo de mostrar ao mundo o que este universo tem para oferecer e que, além de nos dar este sublime espetáculo visual, não descura de nos dar personagens interessantes e uma boa história que faz com que nós, o espectador, sinta investido nas dificuldades e obstáculos dos protagonistas e sinta receito e medo cada vez que alguém dispara um arma que teve uma falha na ignição, quando alguém balança num pêndulo com 15 metros de comprimento para ir à abordagem de uma carruagem ou quando alguém atira uma lança explosiva contra um carro que retira o seu gosto em moda de um porco-espinho.

Verdicto

4.5/5

Crítica escrita por Tiago Garcia

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