Review – Capitão Falcão (2015)

capitaoFalcao

Este filme é realizado por João Leitão e escrito pelo mesmo e por Nuria Leon Bernardo; estreando Gonçalo Waddington como Capitão Falcão, David Chan Cordeiro como Puto Perdiz, Matamba Joaquim como Capitão Preto, Miguel Guilherme como General Gaivota e Rui Mendes como Professor Peninha. Contribuição de José Pinto como António de Oliveira Salazar, Ricardo Corriço como Major ‘‘Alberto’’ e António Durães como D. Afonso Henriques.

Bem, finalmente tivemos a oportunidade de ver a estreia de Capitão Falcão, um híbrido das raízes propagandistas dos Super-Heróis Norte-Americanos dos anos 30/40 (ex.: Capitão América) com a mentalidade das séries de televisão baseadas nestes dos anos 60 (ex.: Batman de Adam West) adaptado à realidade portuguesa do Estado Novo. Originalmente concebida como uma proposta para uma série de televisão para o canal RTP, esta opção acabou por não resultar e os seus criadores resolveram dar o tratamento do grande ecrã a esta personagem, como tantas outras propriedades semelhantes no nosso actual clima cinemático.

Eu, pessoalmente, soube deste projecto, pois os seus responsáveis fizeram publicidade em eventos variados (nomeadamente no ComicCon Portugal) mostrando o episódio piloto que introduz o titular Capitão e o seu ajudante, o mestre marcial Puto Perdiz, cuja identidade (e até voz) nunca revela de forma a manter o seu estatuto como mestre do disfarce. Logo com esta premissa, podemos ver a influência que a série Green Hornet (conhecida por ter o famoso Bruce Lee como especialista marcial, mordomo, ‘‘chauffeur’’ e ajudante do titular personagem) teve na concepção deste projecto, juntamente com a nomenclatura clássica de Super-Heróis (com rimas, iniciais iguais e motifs animais).

Embora o material esteja intimamente relacionado com a cultura popular norte-americana, a propriedade referencia estes ‘‘tropes’’ de forma a criar uma fundação sólida. Tudo a partir daí é mais português que fado e pastéis de nata (lembrem-se deste último que é importante para o filme). O que resulta disto é uma sátira do passado e até mesmo dos dias de hoje. A comédia é bastante mista, sendo rica em referências de cultura popular, um bocado de ‘‘meta’’, umas mais subtis, outras mais bombásticas e até mesmo algum choque. E o mais impressionante? Todas elas funcionam bem no contexto da história e não as sentimos forçadas no decorrer da acção.

Voltando às referências, que é a parte que mais aprecio, estas são integradas onde devem e estão bem encaixadas dado a natureza do filme, tendo algum Star Wars e até mesmo alusões Super Sentai (sim, leram bem, a cultura japonesa entra neste filme). Ainda dentro desta veia de heróis portugueses, as mentes por detrás deste filme arranjaram maneira de integrar um ‘‘cameo’’, muito prevalente nos filmes de pop culture modernos (ver as intermináveis aparências do Generalíssimo Stan Lee nos filmes Marvel), excelente neste filme. Não irei revelar quem é, mas apenas direi que todas as dicas são dadas no diálogo…

Também gostaria de destacar a excelente coreografia de combate (habilmente executada por David Chan Cordeiro e todos os actores que interpretaram os seus ‘‘coloridos’’ adversários, entre eles Pedro Borges, Miguel Frazão, Bruno Salgueiro e Miguel Serra da Silva), que é extremamente sólida, variada e dinâmica. Nada de computadores e nada de fios, apenas boa coreografia e um sólido trabalho de câmera para capturar todos os segundos dos espantosos duelos. Mal posso esperar para ver mais disto no futuro.

Passando para observações menos positivas do filme, o único problema que consigo detectar ocorre, e sem “spoilers”, quando este chega a meio. Aqui, começa a desacelerar e a história parece estagnar um bocado comparativamente ao ritmo estabelecido no início deste. Não digo que não faça sentido dentro do seu contexto, mas não consigo deixar de pensar que esta parte poderia ter tido um ritmo diferente. Apesar disso, gostaria de deixar escrito que é nesta altura que Gonçalo Waddington dá algumas das melhores partes do seu performance juntamente com algumas das melhores linhas de diálogo em geral. Outras possíveis detracções podem resultar da possibilidade de algumas piadas caírem mal a pessoas mais sensíveis. Tirando estas observações, não vejo mais nada de negativo que valha a pena destacar.

Como um à parte, gostaria de realçar e dar os meus parabéns pela ideia de terem utilizado os cromos de coleccionar da História de Portugal, distribuídos durante o Estado Novo, como início do filme.

Esta produção é uma excelente introdução à personagem e estabelece um óptimo ponto de partida para possíveis sequelas, visto que, a partir daqui, só há espaço para crescer. O filme brinca com todas as ‘‘tropes‘’ e ‘‘clichés’’ da ‘‘genre’’ e dá-lhe o sabor distintamente português que é o que todos queríamos desta ideia. Se fores ver este filme, uma palavra de aviso, não saias da sala com pressa, pois existe uma surpresa pós-créditos (o verdadeiro marco de um filme de super-heróis). Caso ainda não o tenhas visto, peço-te que vás e mostres o teu apoio por este projecto; especialmente esta semana (26/4 – 2/5) visto que a sequela do ‘‘franchise’’ multi-milionário ‘‘Avengers’’ estreia e vai sugar a clientela de qualquer outro filme que esteja em cartaz.

É tão raro ver algo de tão maravilhosamente inventivo e original que esteja integrado na cultura popular mundial e, caso isto tenha sucesso, em vez de termos de esperar que Hollywood faça a sua próxima iteração do mais recente ‘‘franchise’’, poderemos cultivar a mesma criatividade e sensibilidade dentro da nossa indústria de entretenimento; experimentar e criar algo que nos apele como país e sociedade quebrando moldes e atitudes acerca do que pode funcionar num ecrã e numa história.

Veredito:

4.5/5

Crítica Escrita por Tiago Garcia

Publicado a

Comentários fechados em Review – Capitão Falcão (2015)