IV Cosmic Mess – Reportagem

O icónico bar Maus Hábitos serviu de pano de fundo na passada quarta-feira para mais um Cosmic Mess, a celebrar a sua quarta edição e cheio de mais uma boa mão de bandas nacionais. Com o stoner, doom, psicadélico e o post rock a preencher a bandeja musical, foi com deleite sonoro que as dezenas de pessoas que passaram por lá foram carimbadas pelos artistas.

Ainda com a sala bem vazia, pelas 22h18, os Mantra subiram ao palco para soltar o seu rock, bem enraizado no stoner e grunge, para tentar surpreender um pouco os mais curiosos acerca do que é que estes meninos de Viana do Castelo são capazes de fazer. E, na verdade, ainda há muito por onde trabalhar, onde o som pareceu acusar alguma falta de maturidade ao vivo, que neste tipo de estilo normalmente exige um acerto rítmico mais apurado.

Não obstante, cumpriram o papel de agitar o que seria o início de uma noite longa, fazendo lembrar em demasia bandas como Kyuss, e o seu esforço foi bem recompensado por sinceros aplausos e sorrisos. Valeu.

Se é quase axiomático que a banda que reúne maior interesse e público dificilmente é aquela que dá o melhor concerto, neste Cosmic Mess é difícil não atribuir aos Astrodome aquela medalhinha invisível de primeiro lugar.

A jogar em casa, com a sala finalmente bem composta, talvez tenha sido mesmo esse o bálsamo para uma actuação potente, aliada aos bons temas e apresentando uma coesão musical bem interessante. Do stoner ao psych, sobretudo em formato instrumental, de tudo um pouco desfilou pelo Maus Hábitos, juntando bem as referências sem aborrecer, com muita personalidade. Destaque para Bruno, que na bateria sustenta todo o comboio de distorção realento até chegar à próxima estação.

Foi, seguramente, o principal atractivo da maioria das pessoas que se deslocaram à rua Passos de Manuel, aplaudindo merecidamente o quinteto psicadélico da invicta.

Os Big Red Panda foram os senhores que se seguiram, subindo ao palco por volta das 00h25. Bom, por esta altura seria necessário algo bem mais especial do que o que a actuação de Big Red Panda foi. Sofrendo um pouco com a debandada de algum público, os cinco de Ponte de Lima, apesar de muito competentes enquanto banda ao vivo, caem num marasmo muito previsível, repetindo um pouco o mesmo esquema em cada música, tentando atingir diferentes universos sonoros mas sempre um pouco utilizando a mesma nave.

O talento está lá, mas pareceu-nos necessário mais alguma personalidade própria, que também em muito pouco é auxiliada pelas vocalizações medianas do Pedro Ferreira, autor dum registo bem familiar para os fãs do género.

Um pouco na mesma linha do que já se tinha ouvido anteriormente nesta noite, nem com três guitarras foram capazes de nos impedir de soltar um ou outro bocejo. Porém, há qualidade instrumental para fabricar, talvez, algo de mais interessante no futuro.

 

Eram perto das duas da manhã quando os The Sunflowers subiram ao palco, e muito se perspetivava sobre a performance do Duo formado por Carolina Brandão, de nome artístico Coralline, e por Carlos de Jesus. A banda, formada numa garagem do Porto, em Maio do ano passado, conta já com 2 EP’s, sendo que o mais recente foi lançado este ano e o qual foram apresentar, denominado de ‘Ghosts, Witches and PB&Js’. Numa sonoridade entre o Garage e  o Post-Rock, o punk também não fica totalmente de fora.

Depois de algum rock pesado, os The Sunflowers trouxeram uma nova energia a esta festa cósmica, sendo que as suas músicas são curtas e eletrizantes, sempre acompanhadas pela Voz e guitarra de Carlos e pela bateria, dominada pela Carolina. Durante cerca de 40 minutos o Maus Hábitos rockou a sério, e destacam-se músicas como ‘ I’m a woman, I’m a Man’ , ‘Mama Kim’, um dos singles do novo EP, e ainda ‘I saw a Ghost’. Houve tempo ainda para uma homenagem ao King Elvis Presley, ao som de ‘A king never die’. Para o final, os The Sunflowers reservaram-nos uma música parecida com ‘Misirlou’, do filme Pulp Fiction, e de repente tínhamos chegado ao Texas.

Um concerto bem conseguido e sem dúvida um dos melhores da noite, marcado pela irreverência dos Portuenses The Sunflowers, e que de certeza terão um futuro em palcos maiores.

E de repente, entrávamos num dos concertos mais aguardados da noite, perto das três da manhã, já sem luzes e em formato de quase DJ Set. Óscar Silva, conhecido pelo seu bigode, oriundo de Lisboa, mais precisamente da Bobadela, conheceu a fama a partir do festival ‘Milhões de Festa’, em 2012. O nome Jiboía, adequa-se pela sonoridade exótica e diferente do habitual, que nos transporta para outro planeta cósmico. Na bagagem, conta com um albúm lançado em 2014, pela Lovers & Lollypops, chamado ‘ Badlav’, muito apreciado pela crítica. Pelo currículo conta já com a participação no maior festival do Mundo dedicado ao Psicadelismo, o Liverpool Psych Fest e este mês estará também presente no Raw Power Festival, em Londres.

Com apenas um teclado da Casio e uma guitarra, Óscar Silva consegue criar música de forma fascinante e somos assim contaminados com o veneno da cobra, mas pelas melhores razões.

Com menos gente que no início da festa, os que restavam eram poucos mas bons e por isso o ponto alto foi com a música ‘ Dvapara Yuga’, um dos mais conhecidos singles do artista e que conta com a participação de Ana Miró, de nome artístico Sequin.

Sem um estilo pré-definido, e desde o rock até à música oriental, o que é certo é que a cobra está aqui para ficar e para nos por a dançar, do início ao fim, e assim foi na passada quarta-feira, no final de mais uma Cosmic Mess.

Por : Ana Carvalho e Tiago Megas (25 de Abril de 2015)

 

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