O Apocalipse de Sufjan Stevens – ao vivo no Coliseu do Porto

Mal entrei na imponente sala do Coliseu do Porto duas situações chamaram-me de imediato a atenção. Primeiro, a grande variedade e número de instrumentos distribuídos pelo palco do Coliseu, mais a decoração ao jeito do The Age Of Adz, prometiam desde logo uma viagem frenética ao mundo do Apocalipse imaginado e cantado por Sufjan Stevens neste seu último trabalho. Segundo, o número de espectadores que infelizmente ocupava apenas meia lotação do Coliseu do Porto, facto talvez explicado pelo elevado preço dos bilhetes ou talvez por Sufjan ainda não ser suficientemente conhecido para esgotar esta sala mítica da cidade do Porto, poderia esfriar os ânimos de um concerto que se queria delirante. No entanto, se o público não foi suficiente para encher a sala do Coliseu, já Sufjan Stevens e a banda que o acompanhou encheram por completo o palco do Coliseu, passeando a sua criatividade artística, a sua música conceptual e também alguns exageros coreográficos num concerto que durou quase duas horas e meia, algo a que eu já não assistia desde há muito tempo.

Sufjan Stevens abriu o seu concerto no Coliseu do Porto com uma versão de tirar o fôlego da música Seven Swans, uma música do seu trabalho de 2004 também intitulado Seven Swans, iniciando logo a seguir a viagem que nos levou a percorrer o seu mais recente trabalho intitulado The Age Of Adz.  Este trabalho surge cinco anos após o fantástico álbum Illinois, período em que Sufjan passou por uma fase repleta de dúvidas acerca do seu trabalho, confessando-se cansado e saturado da sua voz e da sua forma de trabalhar. Esta falta de confiança aliada a problemas de saúde fizeram com que Sufjan passasse por um período de bloqueio criativo, superado pela inspiração que sentiu ao descobrir e explorar o trabalho de Royal Robertson, um artista norte-americano. Royal Robertson sofria de esquizofrenia paranóica e auto intitulava-se de profeta, afirmando que quando tinha catorze anos teve uma visão futurista de uma nave espacial conduzida por Deus. Esta foi apenas uma das muitas visões e alucinações que resultaram num vasto trabalho expresso em pinturas e textos, onde o artista exprimiu a sua obsessão pelo Fim do Mundo e por várias conspirações contra ele, trabalho este que curiosamente acabou por influenciar e inspirar Sufjan Stevens no processo criativo de The Age Of Adz.

Com a projecção do vídeo da música Too Much a servir de pano de fundo e Sufjan Stevens e a sua banda vestidos a rigor, com luzes néon a marcar os nervos do corpo humano, a viagem pelo The Age Of Adz inicia-se com Too Much e The Age Of Adz, duas músicas constituídas por uma linguagem bombástica e uma sonoridade electrónica alucinante. A primeira parte do concerto é quase exclusivamente dedicada ao seu mais recente trabalho, com excepção à música já referida intitulada Seven Swans e ainda a uma versão tocado a solo por Sufjan da música The One I Love dos REM, e ainda a música Sister, dedicada à sua irmã e que está presente no seu álbum Seven Swans. Durante a maior parte do tempo, somos então sobrecarregados, de uma forma positiva, com os assuntos líricos presentes nas músicas do The Age Of Adz como o Amor, a Morte, o Apocalipse, isto ao som inquietante mas harmonioso de músicas como Get Real Get Right ou Vesuvius. Esta primeira parte é então finalizada com a música Impossible Soul, uma música que tem “apenas” 25 minutos de duração, e que é pura e simplesmente um turbilhão de criatividade e genialidade que Sufjan conseguiu reunir numa só música.

No regresso para o encore, já sem muitos dos adereços utilizados durante a primeira parte do concerto, Sufjan Stevens leva-nos então até Illinois onde finaliza o concerto em absoluto êxtase, soltando uma série de balões do tecto do Coliseu ao som de Chicago. Pessoalmente não sou grande adepto deste tipo de “show” e exageros associado a um concerto de música, mas depois de assistir a este fabuloso concerto, sou capaz de perdoar Sufjan Stevens!

Um agradecimento especial ao João Ruivo, que por acaso é um ex-aluno da FEUP, por me ter permitido usar fotografias tiradas por ele durante o concerto de Sufjan Stevens no Coliseu do Porto.

Reportagem: José Ferreira (A Outra Dimensão – www.engenhariaradio.pt/aoutradimensao)

Foto: João Ruivo

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