Noites da Queima do Porto 11 – Dia 7

Primeiro, um pouco de história. Nos inícios dos anos noventa, onde bandas maioritariamente de Seattle povoavam o panorama do rock, um outro movimento se preparava para explodir. Houve uma banda, de seu nome Suede, que começou a atrair imensa atenção ainda antes do seu álbum homónimo de estreia, em 1993. O mesmo tornou-se no álbum de estreia mais rapidamente vendido em quase dez anos, focando a atenção do mundo em terras de sua majestade e abrindo a comporta do que a imprensa viria a apelidar de Brit Pop. Depois, com as já conhecidas “guerrinhas” entre Blur e Oásis, e também devido a um certo afastamento artístico de álbum para álbum por parte dos Suede, a banda acabou por cair num certo esquecimento por parte do público mainstream, que se recorda mais rapidamente da fase terminal da carreira do grupo do que o essencial. Mas foi mesmo o essencial (ou, vá, obrigatório) que se fez mais ouvir no Queimódromo. Sacudindo o peso dos anos dos ombros, Brett Anderson e companhia fizeram mostrar que ainda existem ícones no rock, simplesmente apresentam-se hoje em dia com um pouco mais de cabelos brancos. Por entre a distorção e a bateria, sempre sem falhar, Anderson esgueirava-se, agachava-se, “flirtava”, provocava, num misto de arrogância glam e entrega profissional. Num autêntico comboio pelo historial musical do conjunto, com paragem em todos os álbuns de originais (incluindo o excelente álbum de b-sides “Sci-fi Lullabies”), os Suede souberam agarrar o público, inicialmente relativamente desconfiado, fazendo um concerto histórico nesta edição da Queima das Fitas. Abrindo as hostes com três temas de “Coming Up”, de 1996, o mote para o resto da noite estava dado: “Coming Up” foi mesmo o álbum mais tocado, primeiro com “She”, “Trash” e “Filmstar”, mas com mais revisitas ao longo do concerto, incluindo o obrigatório “Beautiful Ones”, “By the Sea” e o melancólico “Saturday Night”, tema que encerra não só o alinhamento de “Coming Up” como também encerrou o encore do concerto. Mas se “Coming Up” foi justamente explorado pela banda, afinal foi o álbum que elevou os Suede ao sucesso comercial um pouco por todo o Mundo e o primeiro onde o actual guitarrista, Richard Oakes, gravou com a banda, também os dois primeiros estiveram muito bem representados. Apesar de menos conhecidas por parte do público, seria um crime não repescar canções como “Metal Mickey” ou “We Are the Pigs”, onde uma face mais negra e intensa é revelada, muito por culpa das linhas de guitarra mais directas e sem recurso a grandes artifícios por parte de Bernard Butler, guitarrista e compositor integrante da formação original dos Suede. No entanto, também “Head Music” marcou presença, com “Everything Will Flow” (tema bem familiar do público presente, que fez questão de acompanhar Anderson nas vocalizações) e “Can’t Get Enough” (um dos melhores temas desse álbum), optando por deixar de parte “She’s in Fashion”, um dos grandes responsáveis pelo sucesso comercial do álbum. Com o b-side “Killing of a Flashboy” a surgir bem a meio do concerto, a essa altura já se percebia que se estava perante uma banda de culto, que passados mais de dez anos da sua formação, ainda têm vitalidade suficiente para continuar com uma carreira interessante. “Wild Ones” fez a delícia dos apaixonados, seguindo-se “New Generation”, primeiro single de “Dog Man Star”, a resgatar mais uma vez nostalgias e memorias a uns, e apreço e despertar de interesse noutros. No final, era relativamente consensual que o concerto de Suede tinha sido mais do que satisfatório. Tinha sido brilhante. O sentimento forte despoletado em alguns fãs mais antigos, que tiveram que esperar sensivelmente 8 anos para rever a banda, foi acompanhado pela boa opinião do público mais geral, que se mostrou agradecida à banda britânica nos aplausos final. Ficamos à espera duma nova visita destes nossos velhos amigos.

Pouco antes houve rock português à boa maneira estrangeira: Os Pontos Negros animaram e bem o inicio da noite, pontuada pela muita simpatia tanto de Jónatas como de Filipe, as vozes da banda, que não pararam de interagir com o bom público que já se aglomerava pelo recinto, alguns deles claramente à espera do prato principal da noite, os ingleses Suede. Ainda com o último álbum na montra, “Pequeno Almoço Continental”, Os Pontos Negros atiraram-se aos seus temas como bem sabem, agitando os corpos do público com o seu rock jovial e despreocupado, bem ao estilo do garage rock nova-iorquino, mas sem nunca abdicar da sua língua materna para acompanhar o o instrumental. O resultado deste cozinhado deu origem a um prato interessantíssimo, cujo seu consumo em ambiente de Queima das Fitas caiu que nem uma ginja. O tema de apresentação “Rei Bã” revela bem a dose de humor com que Os Pontos Negros pintam a sua música, mas também serve para mostrar como exemplo da popularidade que o quarteto de Queluz goza entre os jovens, com uma boa percentagem a cantarolar aqui e ali. Tema a tema, a banda foi conquistando o público, com claro destaque para “Conto de Fadas de Sintra a Lisboa”, o tema mais emblemático do conjunto, provocando uma boa quantidade de saltos por metro quadrado. Apesar de alguma falta de qualidade vocal do dueto supracitado, quando comparando a execução ao vivo com as versões de estúdio, Os Pontos Negros conseguem, e muito bem, compensar com competência técnica nas restantes execuções e com muitos sorrisos, representativos de quem está a fazer exactamente aquilo que gosta. Venha o próximo!

icon Download Conferência de Imprensa Os Pontos Negros (12.49 MB)

Fotos e Reportagem: Ricardo Machado e Tiago Magalhães

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