Clubbing Maio, 15.05.2010, Casa da Música

Gil Scott-HeronGil Scott-Heron já não é nenhum miúdo. Talvez por isso, impressiona a sua voz forte e profunda, típica das grandes vozes americanas do Jazz e da Soul. A Sala 2 da Casa da Música encheu para ver o músico natural de Chicago, que se fez acompanhar por Glenn Turner, nos teclados e harmónica, e Tony Duncanson na percursão. E que festival de percursão chegou a ser, já perto do final do espectáculo, com Duncanson a solo uns bons 10 minutos. Scott-Heron não tem problemas em dar espaço aos seus companheiros para brilharem. A música flui de forma tão natural dele que não restam dúvidas quem é a lenda e quem a acompanha na viagem.
Sentado em frente ao seu piano Rhodes, instrumento que já deve ter uns bons 50 anos, o também poeta e activista transporta-nos a uma América que já não existe senão nas suas memórias. A certa altura relembra o sofrimento das famílias que vêm os seus filhos partirem para a guerra. É exactamente quando a sua voz atinge o registo mais grave e rouco que nos desperta mais a atenção. Já não há muitas vozes como esta.
O seu novo disco “I’m New Here” (XL Recordings) foi lançado em fevereiro deste ano, mas quase não se fez ouvir na sua estreia no Porto. “The Revolution Will Not Be Televised” também não esteve presente, mas foi possível ouvir “Celebrate, Celebrate, Celebrate” e “I’ll Take Care Of You”, de uma melancolia arrepiante. O espectáculo acaba com uma forte ovação, a certeza de ter sido uma oportunidade única para ver ao vivo um dos precursores do hip-hop , e a esperança que não tenha sido a última vez.

 

Os portuenses Mind da Gap subiram ao palco da sala 2 da Casa da Música, poucos minutos depois das 01h. Como pano de fundo estava a capa do novo álbum editado no passado dia 26 de Abril, intitulado “A essência”. Ace, Presto e Serial iniciaram o concerto de apresentação do novo álbum com o tema “Invicta” do álbum “Suspeitos do Costume”, para logo a seguir apresentarem três músicas do seu novo trabalho, “Abre os olhos”, “Não me habituo” e “A essência”. Enquanto o dj rodava os pratos, os mc’s deambulavam pelo palco e incentivavam o público que compunha a sala 2 a participar no espectáculo. “Falsos amigos” serviu para recuar ao passado dos Mind da Gap, para logo em seguida voltar ao presente. Para a música “Não pára”, Ace chamou ao palco Valete e pediu ao público para demonstrar como se recebe uma pessoa no Porto. O público correspondeu e recebeu-o de forma calorosa. O momento mais alto da noite aconteceu quando o público ecoou a letra da música “Dedicatória” do álbum “Sem cerimónias”. A finalizar, “Todos gordos” mais uma vez com o público a entoar a letra. Para o encore, estavam reservados os temas “Pura riqueza” e mais um tema novo chamado “Marcas”. Tendo sido um concerto de apresentação do novo álbum, não é de estranhar as oito músicas do trabalho “A essência” que foram escutadas, intercaladas com alguns dos clássicos que fazem parte dos 15 anos de carreira dos Mind da Gap.

Reportagem por Ricardo Machado e Tiago Cavaleiro